Longa estrelado pela atriz Dira Paes é exibido no 20º Conamat, com a participação do cineasta Renato Barbieri
Uma história de amor materno que se transformou em exemplo no combate ao trabalho escravo em todo o mundo. Assim é 'Pureza', filme que estreia nacionalmente, dia 19 de maio, e que contou com exibição especial na noite desta quinta-feira (28), na programação do 20º Congresso Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Conamat), seguido de debate com o diretor Renato Barbieri.
O filme foi produzido com recursos provenientes de uma indenização coletiva pela prática da escravidão contemporânea, decisão “corajosa” nas palavras de Barbieiri, que fez questão de agradecer a dedicação do juiz Jônatas Andrade, responsável pela sentença e à procuradora do Trabalho que deu parecer favorável à destinação da indenização para o lançamento do Pureza, Elysa Tomaz, bem como de todos contribuíram com o trabalho.
Ao coordenar o debate, o presidente da Anamatra, Luiz Colussi, falou da importância de 'Pureza' por apresentar um Brasil real, com sérios problemas que precisam ser combatidos, como o trabalho escravo e o infantil, mazelas que ainda perduram na sociedade brasileira. “Precisamos celebrar esse filme, por nos levar à reflexão sobre o nosso país e como podemos melhorá-lo”, afirmou.
Após a exibição do filme para os magistrados presentes ao Conamat, o diretor Renato Barbieri falou detalhes da produção, que levou sete meses de filmagens, em Marabá (PA), tendo como protagonista a atriz Dira Paes, e também personagens reais, como trabalhadores rurais resgatados em situações de escravidão.
“Falo que, em 'Pureza, o real invade o set de filmagem; e o set invade o real, numa troca emocionante que prova a força da arte e também dos personagens como Dona Pureza”, diz Barbieri, que coleciona uma gama de premiações com a produção. Já são mais de 28 prêmios nacionais e internacionais.
Também participaram do debate a vice-presidente da Anamatra, Luciana Conforti; os diretores de Formação e Cultura, Marcus Barberino; de Direitos Humanos e Cidadania, André Dorster; e de Comunicação Social, Patrícia de Sant´Anna; e o jornalista Leonardo Sakamoto, entre outros.
O filme
Baseado na história real da maranhense Pureza Lopes Loyola, a produção conta a história de uma mulher que, durante três anos, desafiou todos os perigos para encontrar seu filho e se tornou um símbolo internacional do combate ao trabalho escravo.
Com a roupa do corpo, Pureza sai de Bacabal (MA), em 1993, em busca de seu filho Abel (Matheus Abreu) – vivo ou morto - desaparecido há mais de um mês após partir para o garimpo na Amazônia. Trabalhando como cozinheira em fazendas no Sul do Pará, estado onde achava que seu filho tinha ido, Pureza esbarra no drama de muitas outras famílias, vítimas de um sistema perverso de servidão e exploração humana em garimpos, carvoarias e fazendas.
De fazenda em fazenda, ao longo e árduos três anos, a pureza da mãe dá lugar à combatente Pureza, que consegue escapar e denuncia os fatos às autoridades federais, mas não sem antes ser novamente confrontada. Sem credibilidade e lutando contra um sistema forte e perverso, ela acaba por retornar à floresta para registrar novas provas e levá-las ao poder público no Maranhão, no Pará e no Distrito Federal, inclusive escrevendo cartas de próprio punho a chefes de Estado: Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.
A saga de Pureza precederia o reconhecimento, por parte do Estado brasileiro, em 1995, perante a Organização Internacional do Trabalho (OIT), da existência do trabalho escravo no país. A história da mãe Pureza impulsiona a criação do Grupo Especial Móvel de Fiscalização, unindo o Poder Judiciário, o Ministério Público do Trabalho e o Poder Executivo na luta contra a exploração do trabalho humano. De 1995 até 2020, mais de 55 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas a de escravidão em atividades nas zonas rural e urbana.
Pureza é uma produção da Gaya Filmes e Ligocki Entretenimento, com direção de Renato Barbieri, produção de Marcus Ligocki Jr. O longa foi realizado e concretizado com recursos oriundos da maior indenização coletiva pela prática da escravidão contemporânea, da Justiça do Trabalho.
Confira as fotos da exibição: https://www.flickr.com/photos/anamatra/albums/72177720298480572
Saiba mais sobre o longa em https://purezaofilme.com.br/
O Conamat
Promovido pela Associação Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), o 20º Conamat foi aberto na quarta (27/4) e segue até o sábado (30), em Porto de Galinhas, município de Ipojuca (PE), com a participação de mais de 400 integrantes da magistratura do trabalho de todo o Brasil. Os painéis, debates e conferências contam também com professores, jornalistas, pesquisadores, advogados e procuradores ligados às áreas do direito do trabalho e de direitos humanos brasileiros e estrangeiros.
Confira a programação o site do evento e assista tudo na íntegra via Youtube.
O 20º Conamat é realizado em parceria com a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 6ª Região (Amatra 6), que congrega juízes da área trabalhista de todo o Estado de Pernambuco. As fotos do 20º Conamat estão disponíveis no Flickr da Anamatra.
* Com a colaboração da jornalista Márcia Guenes (Amatra 6/PE)