“A evolução tecnológica trouxe novas formas de controle e maior precarização do trabalho”, aponta vice-presidente eleita da Anamatra

Luciana Conforti participou do seminário 30 anos da Amatra XVII, 30 anos do TRT-17 e 80 anos da Justiça do Trabalho

“Trabalho por Plataformas e Novas Profissões”. Esse foi tema central abordado, nessa quinta (13/5), pela diretora de Formação e Cultura e vice-presidente eleita da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Luciana Conforti, durante o segundo dia do seminário 30 anos da Amatra XVII, 30 anos do TRT-17 e 80 anos da Justiça do Trabalho, realizado pela Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 17ª Região (Amatra 17/ES) e pela Escola Judicial (Ejud17). 
 
Luciana Conforti foi uma das palestrantes no painel “Direito do Trabalho, Direitos Humanos e Pandemia”, que também contou com a participação do professor universitário e Doutor em Direito Claudio Jannotti da Rocha, e da advogada e pesquisadora Carolina Stange Azevedo Moulin, sob a mediação da juíza do TRT 17 Alda Pereira dos Santos Botelho. 
 
No início de sua fala, a magistrada destacou a relevância do evento, que possibilita o resgate do histórico de lutas de trabalhadores e trabalhadoras, mas, também, da construção do trabalho digno pela Justiça do Trabalho. “Minha homenagem às juízas e aos juízes do Trabalho, que, diuturnamente, atuam para a construção do trabalho digno no Brasil”. Para Conforti, a discussão sobre a centralidade do trabalho se mostra imprescindível, especialmente no atual cenário, marcado pela pandemia da Covid-19, que impacta diretamente milhões de pessoas, não somente pelas inúmeras vidas perdidas, mas, ainda, pelo alarmante número de pessoas em situação de insegurança alimentar, desemprego e/ou submetidas a condições de trabalho escravo.
 
A respeito do tema proposto, a juíza reconheceu que as novas tecnologias trouxeram diversas formas de interação social, comercial e de trabalho e facilitaram as atividades profissionais e a vida contemporânea, além de possibilitar a desterritorialização de atividades e o encurtamento de distâncias. Apesar disso, há questões preocupantes inerentes à questão. “A evolução tecnológica criou novas profissões, porém extinguiu outras, e, também, trouxe novas formas de controle e maior precarização do trabalho”, alertou.
 
Luciana Conforti apresentou dados que constam em relatório da OIT e apontam para a necessidade de regulamentação e negociação coletiva do trabalho por empresas de aplicativos, por meio de diálogo político internacional. Segundo a Organização, os desafios para as(os) trabalhadoras(es) inseridos nessa modalidade estão relacionados, entre outros aspectos, com as condições de trabalho, regularidade de trabalho e dos rendimentos, a falta de proteção social, questões essas que ficaram ainda mais evidentes com a pandemia do novo coronavirus. 
 
A eliminação de postos de trabalho pelas tecnologias e novas profissões também foram abordadas na palestra. A magistrada enumerou algumas das novas profissões que surgem das inovações tecnológicas enquanto outras foram ou estão prestes a serem extintas. Para exemplificar esse impacto, Conforti apresentou dados de pesquisas recentes realizadas nos EUA, que afirmam que 73% dos norte americanos temem mais pelo impacto da Inteligência artificial sobre seus empregos do que aquele causado pela imigração e pela mudança de elos na cadeia produtiva. Segundo os entrevistados, a tecnologia mais serve para a destruição, do que para a criação dos empregos. 
 
No entendimento da magistrada, essa informação é preocupante para os brasileiros, especialmente se levarmos em conta que, diferentemente do Brasil, os Estados Unidos tem elevado índice de inovação tecnológica, alto índice de importação e exportação, boa governança macroeconômica e instituições que incentivam e asseguram a inovação. “Outra importante diferença entre os países diz respeito ao cumprimento da legislação trabalhista nos EUS, as altas condenações impostas às empresas e a proteção aos direitos básicos dos trabalhadores, como salário mínimo, não discriminação, limite da jornada de trabalho, etc”, avaliou.
 
Perspectivas - Ao final de sua exposição, a juíza falou das perspectivas mundiais para o trabalho digno por plataformas digitais, citando, como exemplo de jurisprudência, as decisões proferidas pela Suprema Corte britânica e pela Corte francesa, que reconheceram vínculo empregatício entre motoristas e determinada empresa de transporte por aplicativo e, como exemplos de regulamentação, a lei da Califórnia, que cria vínculo empregatício para motoristas de aplicativos, e a lei promulgada na Espanha, que regula o trabalho dos entregadores de plataforma.
 
Para a futura vice-presidente da Anamatra, “é preciso pensar no grande desafio que temos de reafirmar o compromisso constitucional com o trabalho digno, muito além da liberdade física, mesmo na era tecnológica e no momento em que a vida está se passando pelas telas, para que a Abolição, de 1888 (Lei Áurea), comemorada nesta data, 13 de maio, não fique absolutamente ultrapassada e tenhamos que nos libertar das plataformas digitais”.
 
Programação - O evento continua nesta sexta (14), com a realização do painel “Desafios Atuais da Justiça do Trabalho”, que será mediado pelo juiz do Trabalho da 17ª Região e integrante do Conselho Fiscal da Anamatra, Luís Eduardo Fontenelle.

Receba nossa newsletter

SHS Qd. 06 Bl. E Conj. A - Salas 602 a 608 - Ed. Business Center Park Brasil 21 CEP: 70316-000 - Brasília/DF
+55 61 3322-0266
Encarregado para fins de LGPD
Dr. Marco Aurélio Marsiglia Treviso
Diretor de Assuntos Legislativos da Anamatra
Utilizamos cookies para funções específicas

Armazenamos cookies temporariamente com dados técnicos para garantir uma boa experiência de navegação. Nesse processo, nenhuma informação pessoal é armazenada sem seu consenso. Caso rejeite a gravação destes cookies, algumas funcionalidades poderão deixar de funcionar.