Conamat coloca em pauta discussão sobre acesso aos tribunais e a independência do Judiciário

Secretário da Reforma do Judiciário acredita que promoções não devem ter interferência do Executivo

O penúltimo dia do 17º Congresso Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Conamat), nesta quinta-feira (1/5), foi marcado por importante debate sobre “A Independência do Judiciário: acesso aos tribunais e a interferência do Executivo”.  Sob a coordenação do vice-presidente da Anamatra, Germano Siqueira, o painel contou com a participação do secretário da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, Flávio Caetano, e com os deputados Federais Eliseu Padilha (PMDB/ RS), Sandro Mabel (PMDB/GO) e Paes Landin (PTB/PI).

O secretário Flávio Caetano iniciou sua intervenção explicando a polêmica criação da Secretaria da Reforma do Judiciário, realizada há dez anos no Governo do presidente Lula com o objetivo de aproximar o Executivo do Poder Judiciário. “Foi um começo difícil, mas com o passar do tempo se percebeu que o papel do Executivo era de colaboração para melhorar o sistema de Justiça e não de interferência como se pensou inicialmente”, afirma.

Flávio Caetano citou três problemas que ele identifica no sistema de justiça brasileiro: o excesso de litigiosidade, que tem uma carga de 92 milhões de processos e uma taxa de congestionamento de 70%; a morosidade, com uma média de 10 anos de tramitação de um processo; e a falta de acesso à Justiça. Ele elogiou a Justiça do Trabalho no que se refere à taxa de congestionamento que é de 46%. “Indiscutivelmente, há uma melhor resolutividade”, ressalta.

O Secretário também trouxe estatísticas sobre a quantiade de operadores do Direito. Segundo ele, o Brasil conta com 18 mil juízes, 12,5 mil promotores de Justiça e 6 mil defensores públicos, entre estaduais e federais. O número de advogados é de 774 mil inscritos na OAB e 725 mil acadêmicos de Direito. A Justiça brasileira conta ainda com cerca de 500 mil servidores.

“O Brasil é um País que tem um Judiciário independente, com critérios objetivos de seleção de seus juízes (por concurso), boa formação e um arcabouço jurídico. O nosso problema é de gestão, que é pequeno tendo em vista a estrutura citada anteriormente”, avalia o Secretário.

Ele acredita que o Judiciário brasileiro pode promover pequenos ajustes e recomenda que o sistema faça uso da experiência da Justiça do Trabalho, utilizando processos mais informais e mais baratos. 

A Secretaria da Reforma do Judiciário aposta na criação de duas carreiras de apoio à Magistratura como forma de melhorar o aporte aos magistrados. Uma delas seria a figura do gestor de políticas judiciais, capacitado para pensar no alinhamento de projetos dentro de um processo de gestão estratégica. A outra seria a do administrador judicial, que atuaria como “o braço direito” do juiz para administrar o cartório e deixar o magistrado liberado para julgar.

O processo eletrônico é outra aposta do Secretário para dar mais transparência e celeridade aos processos, E, por último, o secretário enfatiza que é preciso investir na Defensoria Pública para melhorar o acesso à Justiça.

Flávio Caetano fez referência aos processos de escolha dos magistrados nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. “Esses sistemas são bem parecidos com o do Brasil, que em determinadas situações contam com a participação do Executivo e Legislativo”, avaliou.

Em relação aos Tribunais Regionais, no que se refere às promoções por merecimento e antiguidade, o secretário acredita que os próprios presidentes dos tribunais poderiam fazer as escolhas observando os referidos critérios. “Aqui me parece que há uma intromissão do Executivo”, admite o palestrante, que também sugere que o prazo dado ao presidente da República para a escolha do nome na lista deve ser definido com previsão de consequências em caso de descumprimento do tempo.

Duas propostas que ainda não chegaram à Secretaria, mas que Caetano antecipa que serão rechaçadas são o fim do critério por merecimento sob alegação de influência política e o fim do quinto constitucional.

A visão dos deputados

Para o deputado Eliseu Padilha, os legisladores tem que ter a competência de traduzir a vontade da nação em seus projetos. O parlamentar disse estar disposto a defender o pleito da Anamatra para que os Tribunais Federais e os Tribunais Regionais fiquem isentos da participação do Executivo.

“O poder de Estado está delimitado na Constituição. Sempre que houver inércia de um dos poderes, a tendência é de que um dos demais assuma a lacuna. Isso faz com que a interferência seja entendida como indevida, mas é preciso ter em mente que a função julgadora é do Poder Judiciário, e esse não pode sofrer interferência do Executivo”, ressalta Padilha.

O deputado Paes Landin lembrou que o STF nasceu com a República e deve ficar imune às reformas. “Toda vez que o Supremo fraquejou, a democracia também foi enfraquecida”.

Já o Deputado Sandro Mabel observou que é necessário ter cuidado para que a transferência de Poder do Executivo para o Judiciário no processo de escolha seja feita de forma que a influência política - que tanto se teme - não migre também para o Judiciário. “As pessoas têm que ser escolhidas por merecimento”, advertiu.

 

Receba nossa newsletter

SHS Qd. 06 Bl. E Conj. A - Salas 602 a 608 - Ed. Business Center Park Brasil 21 CEP: 70316-000 - Brasília/DF
+55 61 3322-0266
Encarregado para fins de LGPD
Dr. Marco Aurélio Marsiglia Treviso
Diretor de Assuntos Legislativos da Anamatra
Utilizamos cookies para funções específicas

Armazenamos cookies temporariamente com dados técnicos para garantir uma boa experiência de navegação. Nesse processo, nenhuma informação pessoal é armazenada sem seu consenso. Caso rejeite a gravação destes cookies, algumas funcionalidades poderão deixar de funcionar.