Segundo a psicóloga, os juízes potencialmente estão na mira de ter um estresse muito grande, pois ele cuida do próximo e esquece de si próprio, e o grau de responsabilidade influi diretamente na vulnerabilidade do nível de stress, afirmou a diretora presidente do Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS).
Marilda mostrou dados de pesquisa realizada por ela com juízes da Amatra 15. “Quem lidera o nível de estresse no Brasil são os juízes, 70% apresentam sinais significativos de estresse excessivo”, afirmou. “Há também uma grande porcentagem de juízes com má qualidade de vida”, completou.
A especialista deixou algumas dicas, chamadas por ela como estratégias de enfrentamento do stress: reconhecer que precisa de ajuda; escutar o próprio corpo; refletir sobre os aspectos pessoais; praticar atividade física; possuir um hobby; fazer relaxamento; perguntar qual é o seu limite; reservar um tempo para si mesmo para dormir e ter uma alimentação adequada; compartilhar o que sente com alguém de confiança; refletir sobre a vivência e o trabalho; buscar ajuda profissional; focalizar aspectos positivos da situação de trabalho; melhorar a organização do tempo e estabelecer prioridades.
A psicóloga elogiou a iniciativa do Conamat, “trocar com colegas angústias e alegrias, conflitos e estratégias utilizados por colegas é importante. Encontros como este são importantíssimos para a categoria”, afirmou Marilda Novaes.
Ada Ávila Assunção, Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), abordou o tema com o olhar da saúde pública. Ela apresentou dados de pesquisa realizada pela universidade federal mineira, a pedido da Anamatra, que revelou dados preocupantes sobre a saúde dos juízes, como o elevado nível de stress, ansiedade e depressão.
“Possivelmente o que explica esse estresse apresentado nas respostas de nossa pesquisa são as condições de trabalho. Se exige muito hoje em dia do magistrado, são muitas cobranças em torno do trabalho dele”, disse a professora.
Ada questionou ainda qual é o custo humano nas atuais exigências. “Grandes esforços são necessários para o desenvolvimento, mas há pouca recompensa. Recompensa não é só o salário, mas sim o reconhecimento social, a não discriminação, o reconhecimento do trabalho”, disse.
O médico Laerte IdalSznelwar, iniciou sua participação afirmando que as duas painelistas anteriores já teriam mostrado uma demanda fundamental para que se trabalhe a questão da saúde na magistratura. Doutor em Ergonomia pela Conservatoire Nationaldes Art set Metiers e pós-doutor pelo Laboratoire de PsychologieduTravail et de l`Actiondu CNAM, Laerte falou aos congressistas do Conamat que é necessário buscar uma ação transformadora no âmbito do trabalho do magistrado.
“É preciso uma resistência coletiva, o debate e a criação de novas perspectivas, é necessário diálogo para focar na perspectiva de se elaborar outra forma de agir, outra forma de trabalhar”, citou o médico.
"Ao contrário da doença no trabalho que, ao menos parcialmente, conseguimos identificar, e que, tenta-se combater pela não exposição aos mais variados riscos, construir a saúde no plano individual e coletivo reveste-se de um projeto de vida. Algo que diz respeito às possibilidades de se constituir cada vez como um sujeito que pode agir no mundo, que tem seus esforços reconhecidos, que evolui profissionalmente, enfim, que trilha um caminho visando a realização de si", afirmou o painelista.
A mesa do painel sobre “Adoecimento do Judiciário. A contrassaúde do magistrado” foi presidida pelo diretor de Prerrogativas e Assuntos Jurídicos da Anamatra, Vitor Yamada. O integrante do Conselho Fiscal da Anamatra Leonardo Ely e o Conselheiro do Conselho Nacional de Justiça José Lúcio Munhoz também participaram da mesa.