O ingresso da humanidade na Era da Informação é um fato, mas ainda apenas para uma pequena parcela da população. As novas tecnologias, em particular a internet, vieram para ficar e já começaram a alterar o comportamento da sociedade - como um dia fizeram o telefone, o rádio e a TV. Há 100 anos, ninguém imaginava que o desenvolvimento tecnológico nos daria a alcunha de Sociedade da Informação. Agora temos uma infinidade de soluções digitais cada dia mais surpreendentes e avançadas. Entretanto devemos estar atentos para não nos iludirmos, confundindo progresso com pirotecnia. Se esse conhecimento acumulado não for compartilhado pela sociedade como um todo, corremos o risco de ratificarmos o abismo que separa os ricos dos pobres.
No Brasil, a nova economia soluça
demissões e muitos investimentos têm sido repensados,
quando não chegam a ser cancelados. Depois de
confirmada a desaceleração no ritmo de crescimento do
setor para níveis mais realistas, tentamos entender os
motivos do que temos visto por aí. Mesmo com uma
parcela mínima da população tendo acesso ao maravilhoso
mundo novo dos negócios virtuais, colocamos uma super
expectativa em uma atividade novíssima entregando
esperanças de que a rede mundial pudesse dar novo
fôlego ao cenário local e seu desempenho econômico num
prazo recorde. Temos tido pressa em não perdermos o
bonde da história, mas não levamos em conta o fato de
que as novas tecnologias requerem um investimento em
infra-estrutura e ainda são dispendiosas. Para se ter
uma idéia, dados publicados mostram que nos EUA, uma
máquina de marca, com 500 MHz, 64 Megabites, 6
gigabites e DVD custa cerca de US$ 1.800. No Brasil, o
mesmo equipamento é vendido por cerca de R$ 5.500.
Além disso, temos esquecido que
ainda vivemos em um país com um índice crítico de
analfabetos. Segundo dados do IBGE, o Brasil tem hoje
20 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever.
Entretanto, ainda não se sabe quantos são os
analfabetos digitais, aquela categoria de pessoas
despreparadas para viver a interação com as máquinas. A
precariedade de condições a que essas pessoas estão
submetidas, colocam-nas também, muito provavelmente,
integrando os índices do desemprego e do trabalho
informal, crescentes em nossa realidade.
A nova divisão internacional do
trabalho, por outro lado, reflete uma reestruturação
do processo produtivo, e novos postos e perfis
profissionais são exigidos. O novo trabalhador deve ser
um sujeito com permanente capacidade de aprendizagem e
de adaptação a mudanças, deve saber trabalhar em
grupo, de preferência em equipes multidisciplinares, e
ter domínio da linguagem das máquinas. Ou seja: deve
também ser alfabetizado do ponto de vista digital.
Assim, o mundo da tecnologia também
se configura como uma forma de inclusão social. A
aprendizagem da informática e o acesso às novas
linguagens de comunicação e informação, não só
possibilitam oportunidades econômicas, de geração de
renda, como também representam um importante capital
social.
Para um efetivo progresso, é
necessário que esse assunto também esteja presente na
elaboração de uma política de informática equânime e
justa. Nesse caso, devemos acompanhar de perto a
evolução da nova proposta do presidente da República,
que esteve recentemente em reunião com ministros da
área econômica e da Ciência e Tecnologia. A pauta dá
conta de muitas mudanças que estão por vir como
computadores mais baratos, concessão de financiamentos
para a compra de máquinas e a constituição de um fundo
para dotar escolas públicas de equipamentos e
treinamento de professores e alunos.
Mas que treinamento será esse? Aí é
que precisamos estar atentos ao tipo de formação que
será oferecida, pois não basta somente ensinar como
ligar uma máquina ou em que botão mexer. É o que
chamamos no Comitê para Democratização da Informática
de "o clique pelo clique". Finalizamos este mês, numa
parceria com o NIED da Unicamp, a sistematização do
material pedagógico aplicado nas Escolas de
Informática e Cidadania. Compilamos os resultados de
cinco anos de trabalho em uma proposta
político-pedagógica e na metodologia de ensino da
informática e conteúdos de cidadania. Estamos cada vez
mais convencidos de que chamar a atenção para o
desenvolvimento de temas sociais é um dos diferenciais
relevantes de nosso trabalho.
Mais uma vez eu toco na tecla de que a tecnologia se constitui como uma ferramenta e não um objetivo em si. Devemos colocar a máquina a trabalho do nosso progresso e benefício. Porque acreditamos que o analfabetismo digital só pode ser combatido através de uma política de acesso universal aliada à educação. Nas escolas, a tecnologia poderá ajudar a formar os trabalhadores de amanhã. Digitalmente alfabetizados e, se nos preocuparmos, mais conscientes de seu papel na construção de um país melhor.