Em 13 delas, entidades pedem volta da obrigatoriedade do imposto sindical
Trabalho intermitente e limites de indenizações também são alvo; associação de juízes analisa novo processo
WILLIAM CASTANHO
EDITOR-ADJUNTO DE "MERCADO"
O STF (Supremo Tribunal Federal) já recebeu 18 ações diretas de inconstitucionalidade contra a reforma trabalhista. Do total de processos, 13 pedem a volta da obrigatoriedade do imposto sindical. As mudanças na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) entraram em vigor em novembro passado.
Duas ações questionam o trabalho intermitente - a prestação de serviço descontinuada- ; uma, o limite do valor da indenização por dano moral a ser definido pelo juiz; outra pede o fim da correção do depósito recursal - retenção de parte da indenização durante o processo com base no índice da poupança; e a última alega ameaça à gratuidade da Justiça.
Entre os autores estão federações e confederações de trabalhadores de metalurgia, educação, transporte, serviço público e outros ramos e até do setor patronal, a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho) e a PGR (Procuradoria-Geral da República).
Professor de direito do trabalho da USP e sócio do escritório Siqueira Castro, Otávio Pinto e Silva diz que o número de processos é "alto" e uma "consequência natural" da reforma trabalhista.
"Isso mostra que faltou discussão", afirma Silva, em razão da urgência na tramitação das propostas. "Provavelmente muitas outras ações surgirão, fora as individuais na Justiça do Trabalho."
Na avaliação de Paulo Sérgio João, advogado trabalhista e professor da FGV Direito SP e da PUC-SP, no entanto, o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, que reúne o maior número de pedidos de inconstitucionalidade, não vai prosperar. "É um pedido de socorro desesperado. Os sindicatos têm de se reinventar", afirma.
Para João, a contribuição "sempre desqualificou" as entidades, e o fim da obrigatoriedade do imposto sindical é um ponto "superpositivo" da reforma. "Isso já era esperado havia muito tempo pela sociedade."
Os sindicatos, porém, tentam manter a contribuição para afastar o risco de perder até R$ 2,9 bilhões - total da arrecadação em 2016.
AMIGO DA CORTE
A CUT (Central Única dos Trabalhadores), que se posiciona contra o imposto sindical, entrou com pedido de amicus curiae (amigo da corte) em todas as ações para barrar o fim do tributo.
Na petição, os advogados José Eymard Loguercio, Fernanda Caldas Giorgi e Antonio Fernando Megale Lopes afirmam que um dos eixos da nova lei é a "quebra do sistema de financiamento, de modo abrupto, sem período de transição e sem garantias efetivas de sustentação financeira" dos sindicatos.
"Entendemos que a contribuição deve ser democrática e aprovada em assembléia, mas a reforma trabalhista acabou criminalizando a contribuição para o financiamento sindical", diz Quintino Severo, secretário de Administração e Finanças da CUT.
Não há data marcada para o julgamento das ações.
A PRÓXIMA
De acordo com Guilherme Feliciano, professor da USP e presidente da Anamatra - responsável por duas das ações e amigo da corte em duas- , outro processo pode ser ajuizado, contra a correção monetária pela TR de crédito trabalhista. "Tem de ser pelo INPC [Índice Nacional de Preços ao Consumidor]", diz.
"Não há precedentes de uma lei desafiada em 18 ADIs. Tem tudo aí nessa reforma, menos segurança jurídica."