Encontro telepresencial reuniu cerca de 70 magistradas do Trabalho
Debater os desafios para a equidade de gênero no âmbito associativo e no Poder Judiciário. Esse foi o objetivo do 5º Encontro das Lideranças Associativas, promovido, na tarde de sexta (15/3), pela Comissão Anamatra Mulheres. O evento telepresencial reuniu dezenas magistradas associadas, indicadas pelas Amatras, além de presidentes e diretoras das Amatras, diretoras da Associação Nacional e integrantes da Comissão.
Ao abrir o evento, a presidente da Anamatra e da Comissão Anamatra Mulheres, Luciana Conforti, falou que a temática do 5º Encontro surgiu após o caso da atriz Paolla Oliveira, que recentemente foi criticada pela sua idade e forma física enquanto desfilava em uma escola de samba. Para a presidente Conforti, o caso ilustra bem a realidade das mulheres no Brasil, mas também é inspirador, pela postura adotada pela atriz, de discutir o tema. ‘Nós não devemos permitir que ataques como os sofridos pela Paola Oliveira pautem as nossas condutas, moldem nossa atuação ou nossa aparência, afirmou.
Vamos nos ouvir e acolher, compartilhar experiências, refletir e nos fortalecer’, completou a diretora de Cidadania e Direitos Humanos, Patrícia Sant’Anna, na abertura do evento. Para a magistrada, o evento possibilita um ambiente para se expressar abertamente, apresentar questões, dividir problemas e encontrar acolhimento.
Militarismo
A palestra de abertura do Encontro coube à ministra do Superior Tribunal Militar (STM) Maria Elizabeth Rocha, única mulher a integrar a Corte. A jurista fez um resgate histórico das lutas enfrentadas pelas mulheres para obterem a devida ascensão profissional, sobretudo no ambiente militar, onde, segundo ela, existem verdadeiras e inacreditáveis restrições ao público feminino. ‘Está mais do que demonstrado que os indivíduos permanecem confinados compulsoriamente nos lugares preestabilizados na hierarquia social dos seres sexuados’, alertou.
Neste cenário, para a ministra, as recentes medidas já adotadas no Poder Judiciário para garantir um maior número de promoções de juízas na carreira se mostram fundamentais, pois, além de tornarem a justiça mais plural e inclusiva, impactam positivamente a prestação jurisdicional. ‘O feminino vê o mundo sob uma perspectiva diversa do masculino, e nada é mais saudável para a democracia, na medida em que a alteridade de perspectiva torna a humanidade mais fraterna, mais libertária e, sobretudo, mais filógena’, apontou
Roupas no trabalho
“Mulher, roupa, trabalho: como se veste a desigualdade de gênero” foi o mote de painel no encontro com a consultora de moda Thais Farage autora de livro sobre o tema, juntamente com a advogada especialista em gênero Mayra Cotta. O debate foi conduzido pela magistrada do Trabalho da 15ª Região e juíza auxiliar do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Patrícia Maeda.
Em sua participação, Farage falou da importância de se pensar ações para que se rompa com os discursos e estereótipos machistas e misóginos que têm permeado a história da moda feminina no espaço do trabalho. “A verdade é que não existe imagem segura para a mulher nos espaços de poder. Ainda é muito confortável ser homem na sociedade”.
Oficinas
O evento também contou com oficinas com temáticas relacionadas às questões de gênero, conduzidas pelas seguintes integrantes da Comissão Anamatra Mulheres: Yara Campos Souto (Amatra 2/SP), Adriana Manta (Amatra 5/BA), Sandra Cembraneli (Amatra 9/PR), Viviane Martins (Amatra 5/BA), Flávia Menezes (Amatra 2), Adriana Kunrath (Amatra 4/RS), Natália Queiroz (Amatra 10/DF-TO), Viviane Leite (Amatra 5) e Julieta Malfussi (Amatra 12/SC).
A apresentação das oficinas coube às magistradas Adriana Melônio (1ª Região/RJ, juíza auxiliar do TST) e Gabriela Lenz de Lacerda (4ª Região/RS, juíza auxiliar do TST).
‘Eu estou aqui porque temos nos movimentado na carreira. Daí a importância de não fazermos disso um movimento feminista individual’, pontuou Gabriela Lenz sobre a importância de atuar no TST, em cargo tradicionalmente ocupado por homens.
Já a juíza Adriana Melônio falou dos desafios da mulher negra dentro do Poder Judiciário. ‘A magistratura é um local simbólico, no qual um corpo negro não é visto com naturalidade’.