Estudo da OIT revela que condições de trabalho da mulher pouco evoluíram nas últimas duas décadas
As desigualdades de gênero no acesso ao emprego e nas condições de trabalho são maiores do que se pensava anteriormente e o progresso para reduzi-las tem sido extremamente lento nas últimas duas décadas. É o que revela o relatório “New data shine light on gender gaps in the labour market”, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), lançado na véspera do Dia Internacional da Mulher (8 de março).
Segundo a pesquisa, 5% das mulheres em idade ativa em todo o mundo gostariam de trabalhar, mas não têm emprego, em comparação com 10,5% dos homens. Essa diferença de gênero permaneceu quase inalterada por duas décadas (2005-2022). Em contraste, as taxas globais de desemprego para mulheres e homens são muito semelhantes, porque os critérios usados para definir o desemprego tendem a excluir desproporcionalmente as mulheres.
Para a juíza Viviane Leite, presidente em exercício da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), a realidade do mercado de trabalho assemelha-se à presença das mulheres no sistema de Justiça e nos espaços de Poder, o que demanda uma ação propositiva de toda a sociedade. “Vivemos uma contradição, pois apesar de inúmeras mulheres sustentarem os lares brasileiros, estas continuam recebendo salários mais baixos e com acesso as piores opções de postos de trabalho em relação aos homens. Da mesma forma, se revela a dificuldade de acesso das mulheres inseridas no mercado de trabalho a galgarem postos de chefia”, avalia a magistrada.
O informe da OIT aponta que as responsabilidades pessoais e familiares, incluindo o trabalho de cuidado não remunerado, afetam desproporcionalmente as mulheres. Essas atividades podem impedi-las não apenas de estarem empregadas, mas também de procurar um emprego ativamente ou de estarem disponíveis para trabalhar mediante curto aviso prévio. É necessário atender a esses critérios para ser considerada desempregada, por isso muitas mulheres que precisam de um emprego não são refletidas nos números do desemprego.
Os desequilíbrios de gênero no que tange o trabalho decente não se limitam ao acesso ao emprego. Embora o emprego em condições de vulnerabilidade seja generalizado para homens e mulheres, as mulheres tendem a estar sobrerrepresentadas em certos tipos de empregos vulneráveis. Por exemplo, é mais provável que as mulheres ajudem nas tarefas domésticas ou nos negócios de família, em vez de trabalharem por conta própria.
Essa vulnerabilidade, juntamente com taxas de emprego mais baixas, afeta a renda das mulheres. Globalmente, para cada dólar de renda do trabalho que os homens ganham, as mulheres ganham apenas 51 centavos.
Brasil
Pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) corrobora as conclusões da OIT. O levantamento revela distorções entre homens e mulheres no mercado de trabalho no Brasil.
As mulheres são maioria entre os desempregados e minoria na força de trabalho. Também têm maiores taxas de subocupação e desalento, além de ganharem, em média, 21% a menos do que os homens. e os homens.
No terceiro trimestre do ano passado, segundo o informe do Dieese, as mulheres representavam 44% da força de trabalho, mas eram 55,5% dos desempregados no país. A taxa de desemprego era de 6,9% para os homens e subia a 11% no caso das mulheres. Esses dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. Eram 5,3 milhões de desempregadas, sendo 3,4 milhões negras.