20º Conamat trouxe conferência do psiquiatra francês Christophe Dejours

A construção da democracia e a qualidade da prestação jurisdicional pressupõem valorização qualitativa do trabalho da Magistratura. A análise é do psiquiatra francês Christophe Dejour, considerado o pai da psicodinâmica do trabalho, na conferência que abriu os trabalhos da 20ª edição do Congresso Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho, nesta sexta (29/4).

Para Dejours, esse ‘prazer no trabalho’ está diretamente ligado à própria construção da democracia. "Julgar não é um trabalho, é uma missão. E missão aqui tem duas conotações: é antes de tudo uma ação para a qual um indivíduo parece estar destinado. É, de certa, forma uma vocação próxima ao apostolado de um religioso", afirmou.

Um ambiente de trabalho adequado à essa democracia também pressupõe, explicou Dejours, a existência de relações de confiança entre aqueles e aquelas envolvidos na tarefa da prestação da justiça, de ajuda mútua, onde a soberania pertence a todos, transformando o sofrimento em prazer no trabalho. "A democracia não é apenas uma doutrina ou uma teoria. A democracia é fundamentalmente uma prática, ou seja, a implementação de habilidades individuais e coletivas para mobilizar a inteligência deliberativa", explicou.

Entender essa concepção do ‘trabalho vivo’ é o desafio da atualidade, tempos em que - explicou o francês - a organização do trabalho impõe, cada vez mais, uma ‘governança por números’, por metas, com medição quantitativa e objetiva, descolada da preocupação com o meio ambiente do trabalho.

"A pressão quantitativa sobre os objetivos e o desempenho leva irredutivelmente à deterioração da qualidade do serviço judiciário, do Estado de Direito e da democracia", avaliou Dejours. Para o especialista a própria proteção social dos trabalhadores e a capacidade do juiz de ‘ouvir o sofrimento do litigante’, depende, antes de tudo, de sua própria experiência de sofrimento ou de prazer no trabalho", reforçou o psiquiatra.

Empatia

A conferência com Christophe Dejours foi presidida pelo ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Augusto César Leite de Carvalho. Em sua fala, o ministro destacou a importância da escolha do tema do conferencista, para que o magistrado do Trabalho possa compreender a sua própria lógica de sofrimento e realizar um trabalho vivo, onde se sinta projetado. "Para poder exercer empatia de compreender o trabalho que se realiza no âmbito de relações que não protagoniza, mas que, eventualmente, virão a sua apreciação em determinado momento", disse Carvalho.

Também compôs a mesa o presidente da Anamatra, Luiz Colussi, que presenteou o ministro e o conferencista, em nome do evento, com um livro sobre a história de Pernambuco e uma obra de arte representando uma passista de frevo.

O Conamat

Promovido pela Associação Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), o 20º Conamat foi aberto na quarta (27) e segue até o sábado (30), em Porto de Galinhas, município de Ipojuca (PE), com a participação de mais de 400 integrantes da magistratura do trabalho de todo o Brasil. Os painéis, debates e conferências contam também com professores, jornalistas, pesquisadores, advogados e procuradores ligados às áreas do direito do trabalho e de direitos humanos brasileiros e estrangeiros.

O 20º Conamat é realizado em parceria com a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 6ª Região (Amatra 6), que congrega juízes da área trabalhista de todo o Estado de Pernambuco.

Confira a programação o site do Conamat - https://www.anamatra.org.br/conamat/programacao-conamat

Assista tudo na íntegra via Youtube - https://www.youtube.com/user/tvanamatra/playlists

As fotos do 20º Conamat estão disponíveis no Flickr - https://www.flickr.com/photos/anamatra/albums