Reforma trabalhista não gerou empregos, nem segurança jurídica, avalia presidente da Anamatra

Lucas Couto

Guilherme Feliciano participa de audiência pública sobre um ano da reforma trabalhista, no Senado

Em audiência na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, nesta terça (06/11), no Senado Federal, o presidente da Anamatra, Guilherme Feliciano, afirmou que a reforma trabalhista não realizou ao menos duas das três promessas do Governo, ao tempo da tramitação do Projeto de Lei 6787/2016. A audiência foi conduzida pelo senador reeleito Paulo Paim. Também participou  da audiência o diretor de Assuntos Legislativos da Anamatra, Paulo Boal. 

Em sua fala, o presidente Feliciano afirmou que das três promessas que embasaram a aprovação da Lei nº 13.467/2017 apenas uma foi plenamente alcançada: a redução de processos na Justiça do Trabalho. De acordo com dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST), houve uma queda de 46% dos ajuizamentos em todo país, entre dezembro de 2017 e março deste ano, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Isso representa, em números absolutos, 381.270 processos a menos nos tribunais regionais. Mas isso em grande parte se deve, segundo Guilherme Feliciano, ao temor do trabalhador em exigir todos os seus direitos na Justiça, à vista da sucumbência recíproca.


Em relação às outras promessas da reforma trabalhista, para Feliciano, o Governo não atingiu o esperado. A empregabilidade não alcançou a previsão de dois milhões de postos de trabalho. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho, apontam que foram criadas cerca de 372 mil vagas formais. Por outro lado, de acordo com o magistrado, aumentou o percentual de trabalhadores na informalidade e a projeta-se forte aumento na terceirização na atividade-fim.

Outro aspecto que não progrediu com a Lei nº 13.467/2017 foi a segurança jurídica. “O fim da obrigatoriedade da contribuição foi questionado em 19 ações diretas de inconstitucionalidade”, exemplificou. A Anamatra também ingressou com ações no STF, questionando pontos da reforma trabalhista referentes à atualização dos depósitos recursais e à fixação de valores de indenização por dano moral. Ainda estão “sub judice”, naquela Corte, o trabalho intermitente e a realização de atividades insalubres por gestantes e lactantes”, exemplifica.

Ao final de sua intervenção, o presidente da Anamatra citou a música “Índios”, da banda Legião Urbana, para ilustrar a reforma trabalhista. “Gostaria de citar o poeta e cidadão desta cidade, Renato Russo, para expressar o reflexo do que sinto e do que estamos vivendo na condição do mercado de trabalho pós-reforma: ‘...nos deram espelhos e vimos um mundo doente. Tentei chorar e não consegui’”, enunciou o presidente, que foi aplaudido na audiência no Senado.

Participantes - Também participaram da audiência o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (SINAIT), Alex Myller; a pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (CESIT/ Unicamp, Marilane Oliveira Teixeira; o coordenador nacional da Coordenadoria Nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho (Conafret), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e representante da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (Anpt), Paulo Joarês Viera e o representante da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Moacyr Roberto Tesch Auersvald. O diretor de Assuntos Legislativos da Anamatra, Paulo da Cunha Boal, também acompanhou a audiência.

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