Com o tema “Ateliê da interface do direito com a psicanálise para os aposentados: E o desejo? Será que ele se aposenta?”, a psicóloga e psicanalista Mônica Véras fez a sua intervenção nesta quarta-feira (30/4) no 4º Encontro Nacional de Magistrados do Trabalho Aposentados, que acontece simultaneamente ao 17º Conamat em Gramado (RS).
A palestra teve como foco a motivação e autoestima do aposentado e daquele que está em vias de se aposentar, para que ele não perca a sua identidade e conviva com essa nova condição, que representa uma mudança. Segundo Mônica, a noção de identidade vai se constituindo ao longo da vida. “A identidade é algo que a gente leva até o final da nossa existência, essa dependência em relação ao outro organiza a nossa psique”, pontuou. “Assim sendo, desde criança, precisamos pertencer a algum grupo específico e sermos reconhecidos pelo que fazemos”, completou.
Para a psicanalista, o desejo não se aposenta, desejar é se movimentar, sair do lugar parado e seguir para um lugar dinâmico. “Essa é a forma mais natural de formatar a autoestima. O desejo de reconhecimento é legítimo e necessário ao ser humano, ser reconhecido é se apropriar de um lugar no social. É sentir satisfação em exercer uma atividade e ser motivado a se desenvolver cada vez mais e crescer”, disse.
Véras acredita que as pessoas mais realizadas em suas profissões são aquelas que se conhecem bem e utilizam sua competência na atividade laboral, ou seja, a atividade que a pessoa exerce enquanto está em sua total vivência. “Só tem sucesso aquele que ama aquilo que faz, que tem vontade de reciclar, sente saudade da sua atividade, está sempre conectado nas novidades da área, isso é o ideal”, afirmou.
Nesse sentido, as pessoas têm que aprimorar o seu desejo para que sejam realizadas com o que fazem. “Sair para trabalhar será um ato de alegria e não de angústia”. Entretanto, ela pondera ao dizer que conhecer os limites é o primeiro passo para a cura, para a libertação. “Construir a identidade é se apropriar dela e sanar com sabedoria os enganchamentos sintomáticos”, explica.
A proposta do ateliê foi sanar os problemas que ocasionalmente ocorrem durante a vida, conhecer o que incomoda, se cuidar melhor e se preservar para ter saúde psíquica inabalável. “Quando existe isso, temos vontade de fazer tudo, viajar, trabalhar, passear. Quando a saúde está abalada, ou sobrecarregada, desmotivada, mal compreendida, perdemos essa energia psíquica. O que turbina essa motivação é estarmos realizados, a atividade laboral é fonte de satisfação”, ressaltou.
Nessa linha de pensamento, de acordo com a conferencista, o aposentado não significa esquecido, depende de como ele lida com a palavra ‘aposentadoria’. “É o momento onde ele vai trabalhar no que quiser pelo puro prazer. O desejo não tem idade, 80 anos não significa que não exista vontade. A falta é o que turbina, no movimento do desejo, para atracarmos a dor de existir. Estar em falta é uma atitude humana, natural. O aposentado tem que estar em falta, porque, se não sente isso, está morto. A falta é o que faz o desejo se mostrar em direção aos objetos”.
Ao encerrar a sua exposição, Mônica Véras afirmou que a aposentadoria tem que ser vista como o momento de maior felicidade, de realização extrema e interface com vários saberes. “Aquilo que é agradável é fugaz, mas aquilo que demora é eterno”, finalizou.