Painel discute novas tecnologias e Processo do Trabalho

Desembargador Cláudio Brandão, ex-secretário do CNJ Rubens Curado e psicóloga clínica analisam o tema

“Novas tecnologias e o processo do trabalho”. Esse foi tema de um dos painéis do 15º Conamat, no dia 29 de abril, que contou com a participação do desembargador do Trabalho da 5ª Região Cláudio Brandão, do ex-secretário do Conselho Nacional de Justiça, juiz do Trabalho Rubens Curado, e da psicóloga clínica do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região Juliana Barros Oliveira. O painel foi presidido pelo diretor de informática da Anamatra, Ribamar Oliveira Lima Júnior. 

O painel teve início com a exposição da psicóloga Juliana Oliveira, que falou da importância dos magistrados do Trabalho darem atenção à saúde. “O outro é o nosso grande objeto. E não é possível dar conta da saúde do outro e de proteger o trabalho do cidadão, se não estivermos com nossa saúde física e mental sob controle”, alertou a psicóloga. 

Juliana Oliveira falou do paradoxo existente com o advento das novas tecnologias, onde em um primeiro momento se pensa em algo positivo, e depois em algo ameaçador. “Não estamos trazendo um contraponto à evolução tecnológica, que é uma grande promessa de celeridade, mas não substitui o valor humano. A sabedoria do magistrado, a aplicação do Direito ao caso concreto, não há tecnologia capaz de fazer”, alertou.

Para a psicóloga, faz-se necessário que a aplicabilidade das novas tecnologias venha acompanhada de uma efetiva verificação dos riscos à saúde do magistrado, que sejam feitas as adaptações necessárias, que a implantação seja gradual e, principalmente, que os limites individuais sejam respeitados.

“Tecnologia sim, mas sem esquecer o processo humanístico”

O desembargador do TRT da 5ª Região, Cláudio Brandão, iniciou sua intervenção com uma frase de Noé de Azevedo – “A justiça reflete o meio em que vive os seus aplicadores”. Nesse aspecto, o magistrado conclamou que todos vivam o espírito da época, mas sem perder de vista o aspecto humano do processo. “A sociedade de hoje é caracterizada como da informação e isso é um elemento para compreendermos o meio em que vivemos”, disse.

Para o magistrado, as novas tecnologias têm modificando, sobremaneira, as características da Justiça do Trabalho. “A introdução da tecnologia promoverá o redesenho do processo judiciário trabalhista em especial. Não é o processo atual com nova roupagem, ao contrário, é um novo processo, de um novo tempo”, ressaltou, ao explicar que inclusive dogmas serão alterados.

“Tecnologia sim, mas sem esquecer o processo humanístico que o trabalho envolve. Quem vai  às portas do Poder Judiciário é a classe mais pobre de nosso país”, alertou o desembargador. Sobre os “excluídos digitais”, que não têm acesso à tecnologia ou não gostam de computador, o desembargador ressaltou o papel do Estado, que “não pode negar o acesso à justiça”.

Cláudio Brandão finalizou sua exposição analisando os reflexos da tecnologia no processo judicial, tais como a identificação de gargalos e a fixação do tempo real de duração do processo, a identificação e supressão de tarefas repetitivas, a simplificação do procedimento, a padronização das rotinas nas secretarias, entre outros.

“Precisamos de uma política judiciária voltada, efetivamente, à execução”


Coube ao juiz do Trabalho Rubens Curado, ex-secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), finalizar o painel, concordando também com a premissa da preocupação humanística da prestação jurisdicional.

Em sua exposição, o magistrado analisou o impacto da tecnologia da informação na gestão de pessoas, onde explicitou a necessidade da capacitação permanente dos servidores e sua inclusão digital, bem como a otimização da mão-de-obra existente.  Também fez parte da exposição de Rubens Curado a preocupação com a parcela do orçamento, que vem sendo dedicada ao incremento das novas tecnologias, onde lançou indagações: 

“Enquanto esse orçamento era gasto ou investido, onde estavam os nossos juízes? Qual foi a política de TI que gerou esse investimento? Participamos dessa discussão? As associações foram convidadas? O orçamento foi bem executado?” Para Rubens Curado, os magistrados e as associações precisam exercer o papel conferido a eles pela Resolução nº 70 do CNJ, que fez uma abertura para a participação nas discussões envolvendo o planejamento e o orçamento.

“Somos membros efetivos do Poder Judiciário ou estamos nos comportando como hóspedes da instituição? A gestão democrática está aí, e todos fomos chamados a participar. O caminho está traçado, basta persegui-lo”, ressaltou Rubens Curado.

Apesar de reconhecer a importância das novas tecnologias, Rubens Curado acredita que o processo eletrônico não combate um dos maiores problemas da justiça que é a execução. “Ele não vai melhorar a vida do juiz, que continuará sobrecarregado como hoje. Precisamos buscar outros caminhos, sobretudo na melhoria das tecnologias voltadas à execução”, disse, ao conclamar para o aperfeiçoamento das ferramentas como o Bacenjud, o Renajud e o Infojud. O magistrado também manifestou sua preocupação quanto à ausência de uma política que coíba a atuação dos “laranjas”. “Precisamos de uma política judiciária voltada, efetivamente, à execução”, finalizou.

Receba nossa newsletter

SHS Qd. 06 Bl. E Conj. A - Salas 602 a 608 - Ed. Business Center Park Brasil 21 CEP: 70316-000 - Brasília/DF
+55 61 3322-0266
Encarregado para fins de LGPD
Dr. Marco Aurélio Marsiglia Treviso
Diretor de Assuntos Legislativos da Anamatra
Utilizamos cookies para funções específicas

Armazenamos cookies temporariamente com dados técnicos para garantir uma boa experiência de navegação. Nesse processo, nenhuma informação pessoal é armazenada sem seu consenso. Caso rejeite a gravação destes cookies, algumas funcionalidades poderão deixar de funcionar.