A pretexto de corrigir equívoco
histórico presente em artigo da minha autoria sobre o
direitismo doentio de algumas figuras do mundo político
no Brasil, o Sr. Olavo de Carvalho, na sua coluna
semanal do GLOBO, acometido do ensandecimento peculiar
aos sujeitos que não toleram a pluralidade de opiniões
e idéias, utiliza o velho recurso fascista da
desqualificação da pessoa para destilar todo o seu ódio
ideológico contra o conjunto da magistratura
trabalhista brasileira, a quem se reporta como
semi-analfabeta.
Os juízes do trabalho merecem respeito e qualquer
crítica ou ofensa dirigida, no caso concreto, deve se
restringir ao autor do texto atacado.
A infame estratégia salta aos olhos. O colunista se
apega a questão lateral do meu texto, por não
pretender enfrentar a idéia central que sustento, para
qualificar-me como "charlatão bacharelesco",
"exibicionista de conhecimento", "ignorante
ambicioso", protagonista de "showzinho de erudição
fingida" que, completa, ostenta "erudição histórica
abaixo do requerido para o Show do Milhão". O discurso
vazio, a deselegância e o destempero, naturalmente,
não tiveram o condão de convencer os leitores do
jornal. Ainda assim, julgo-me no direito a uma
resposta.
Não sendo direto, o articulista tenta negar a origem
das expressões esquerda e direita como referências às
forças ideológicas adversas durante a Revolução
Francesa, a partir de sua localização física.
Indicações de que isso teria ocorrido já na Assembléia
Constituinte são feitas por alguns autores.
De qualquer forma, se na época da Assembléia
Nacional as expressões gauche e droite foram aplicadas,
respectivamente, aos pró-republicanos/democratas
radicais e aos defensores da monarquia, na Convenção
Nacional elas serviram para designar os jacobinos e os
girondinos, de modo que a distinção surge, sem dúvida,
no curso do movimento revolucionário iniciado em 1789.
Também é certo que, diferentemente do que ensina o sr.
Carvalho, não foi em 1793 que a definição
ideológico-geográfica se deu, como apontam Hobsbawm,
Bobbio e Sader.
À toda evidência, o procedimento do colunista é de
um precário diversionismo. Na verdade, quer,
desqualificando-me a partir de um aspecto periférico,
desviar a atenção para o problema central exposto, que
não pôde combater diretamente.
A velha extrema-direita vê fantasmas comunistas em
toda parte e busca construir cenários para eliminar os
agentes políticos que, de algum modo, não concordam
com as suas elucubrações, postas como verdadeiros
dogmas de uma seita.
A falta de reflexão humanística e os arroubos
sofismáticos do reverendo, muitas vezes podem levar os
seus infelizes e frustrados seguidores ao suicídio
intelectual, entre outros motivos, pelo pensamento
esquizofrênico de que só existe vida inteligente na
doutrina liberal e na repressão à ideologia que combate
a desigualdade social, a miséria gerada pelo
capitalismo nômade, a exploração da classe
trabalhadora e o direito absoluto de propriedade.
Definitivamente, essa gente não tolera a pluralidade
de pensamento. Odeia a dialética de Hegel e, muito
mais, a de Marx, sendo desprovida da menor autoridade
para, pelo menos, compreender o caráter científico de
toda a doutrina, grandeza que tiveram destacados
liberais e capitalistas. O fascínio, no entanto, por
outras desigualdades é algo notável nas concepções da
ultradireita brasileira, especialmente pelo abismo
social que separa ricos e miseráveis no país. Se
pudessem, evidentemente, restabeleceriam o conforto e
o despotismo patronal de "Casa Grande e Senzala".
Ao aspirante a intelectual, sempre atento aos
programas de variedades da televisão brasileira, devo
registrar que não me constrange recorrer aos
estudantes por uma boa causa. Faço-o agora mesmo,
convidando-os à crítica contundente às injustiças
sociais, a partir dos espaços de liberdade das
universidades.
Além dos universitários, aos trabalhadores e a todos
os democratas para que varram do mundo a praga das
idéias fascistas, de modo a tornar a reinstalação de
regimes autoritários, com que sonha o articulista,
mera peça de delírio, e para que a "Queda" do ditador
seja apenas a película exibida no cinema, como triste
lembrança do regime mais sangrento e mais anti-humano
da História da civilização.