É profundamente lamentável a matéria veiculada pela Revista Exame, em que trata o Juiz
Mas fiquei intrigado sobre quem seria o xerife de Sherwood. Afinal, há poucos dias, um outro veículo de comunicação publicou matéria de ministra do STJ, em que está dito que os juízes das "instâncias inferiores" deveriam ser mais "políticos", respeitar mais os contratos, e proteger o mercado desses verdadeiros absurdos que são as indenizações vultosas contra as empresas. Mesmo os aumentos de tarifas previstas contratualmente, há muitos anos, desde a época das concessões de serviço público, quando, evidentemente, a própria temperatura da economia era outra, devem ser permitidos, sem que ouse o nativo de Sherwood contestá-las perante as autoridades competentes.
O interessante é que na entrevista da alta autoridade do STJ, o tom não foi pejorativo e nem se avultaram as críticas ao conteúdo da matéria, menos ainda sobre o próprio início da reportagem: "é sabido que os juízes de primeira instância, muitas vezes, não passam de meros
despachantes". Ora, a postura do
Mas seria interessante, prosseguindo na busca de resposta à pergunta do título, cogitar de sugerir a ministra do STJ, que tentasse, sem identificar-se como magistrada (que isso é medida por demais politicamente incorreta, nos dias atuais), proceder ao cancelamento de um cartão de crédito, ou, mesmo, da assinatura da própria revista e jornal em que os magistrados foram entrevistados. Se conseguir o intento em um minuto (embora reconheça que se alguma empresa quarteirizada de telemarketing ler esse texto, provavelmente, diligenciará no cumprimento de prazo recorde para o intento da cliente), comemore: atingiremos um patamar legitimamente civilizatório. Eu, pelo menos, quando tentei cancelar a assinatura de uma revista em nome da minha esposa (e após ela ter tentado por quarenta minutos), pela quarta vez ao telefone e pela primeira com aquela pobre recepcionista, tive de dizer-lhe, como motivo para a súplica de cancelamento: "Ela morreu"!.
Agora, o país assiste, estupefato, à violação das conversas eletrônicas de ministros do Supremo Tribunal Federal sobre o julgamento dos envolvidos no escândalo do mensalão: não há mais pudor e pruridos na luta pela venda de jornais e revistas. Dizer que integrantes de órgãos colegiados não conversam entre si antes dos julgamentos é sugerir - ou desconhecer - o corriqueiro, o sistemático, aliás, o que é excelente para o andamento dos trabalhos do próprio órgão julgador. Não é pecaminoso, não é proibido, aliás, o que é proibido, é a divulgação das posições antes do julgamento ao público em geral, o que o diário não teve o menor constrangimento em fazê-lo. Evidentemente, a tiragem do jornal aumentou e, assim, os valores dos anúncios também aumentaram e, assim, os ganhos da empresa cresceram e se ela puder, então, substituir o diagramador por um outro que tenha por sobrenome "ME" ou "FI", então, seria muito bom! Mas o sublime seria se os "juízes despachantes" ratificassem a validade do contrato, sem aumentar o volume do trabalho da ministra, pois aí sim estar-se-ia fazendo política, aliás, Política, assim, com P maiúsculo.
Habitualmente, se tira dos pobres para dar aos ricos e ninguém fala nada em Sherwood. Salvo o Juiz Robin Hood e seus seguidores. Então, pior, muito pior seria, se os "juízes despachantes de primeira instância" tirassem dos pobres para dar aos ricos...
A pergunta do título fica sem resposta. Talvez Nottingham, como centro de poder, tenha a resposta. Ou então você mesmo possa respondê-la.