DESDE 1960
Circe Cunha (interina)// Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Sem o Censo, Brasil perde sua principal bússola para sair da crise
Como tem acontecido, com certa frequência nesses últimos tempos, coube, mais uma vez, ao Supremo Tribunal Federal (STF) interferir na seara do Executivo para lembrá-lo dessa vez que, como manda a Constituição, o governo federal é obrigado a realizar o Censo, que na realidade deveria ser feito no ano passado, mas em decorrência da pandemia, não aconteceu.
Dessa feita o Supremo cedeu para que o governo realize o Censo somente em 2022, mesmo diante dos cortes drásticos no orçamento do IBGE. Segundo a própria entidade, dos R$ 3,5 bilhões previstos inicialmente para a realização das pesquisas em todo o país, restaram pouco mais de R$ 53 milhões, o que torna impossível a realização de um Censo dentro dos padrões minimamente aceitáveis.
Como, por lei, o Censo tem que ser realizado a cada dez anos, o IBGE irá se defrontar com dados e números fora dos padrões, principalmente em virtude da crise gerada pela pandemia, que afetou todos os índices de produção e de desenvolvimento humano. Com isso, o retrato que possivelmente emergirá do Brasil em 2022 poderá mostrar um país que já não conhecemos bem, ou que imaginávamos ter ficado num passado longínquo.
Para os estudiosos no assunto, a pandemia, veio para reforçar, ainda mais, a necessidade e urgência de realização do Censo, de modo que o governo possa aperfeiçoar seu planejamento e ajustar melhor as políticas públicas em todas as áreas. Até mesmo com relação ao planejamento de vacinação da população. O Censo pode indicar o número exato de pessoas de uma determinada região, idade e outros dados que podem ser úteis no programa de distribuição de vacinas.
O fato é que, sem o Censo, o Brasil perde sua principal bússola capaz de indicar as possíveis saídas para a crise gerada pela pandemia. Além do fato meramente econômico e social, o Censo, segundo políticos da oposição, pode mostrar um Brasil que o atual governo não deseja ver e dar a conhecer aos brasileiros.
O eleitor ao olhar a foto atual - e real do país - pode, inclusive, mudar o destino de seu voto. Para os ex-presidentes do IBGE, Roberto Olinto e Paulo Rabello de Castro a não realização do Censo é uma verdadeira tragédia para o país e uma perda da cidadania, uma vez que, ao não conhecer bem a realidade de cada lugar e de sua gente, não há possibilidade alguma do Poder Público realizar o que quer que seja em benefício do cidadão.
Num ponto todos concordam: a pandemia mudou muito o Brasil que conhecíamos até pouco tempo. Para esses especialistas, o apagão propiciado pela não realização do Censo em tempo pode ter consequências negativas de longo prazo, algumas, inclusive, já sem solução, devido ao atraso. O corte de 90% da verba destinada ao IBGE para o Censo e que motivou o pedido de demissão da pesquisadora e presidente Susana Cordeiro Guerra, parece não ter despertado, até o momento, a atenção do presidente Bolsonaro para o perigo dessa decisão que afeta não só o futuro dos brasileiros, mas a continuidade ou não de sua gestão.
Um exemplo dessa importância vital do Censo pode ser conferido no SUS, nesse momento de pandemia. É pelo Censo que o país pode avaliar e planejar visando aperfeiçoar o trabalho do Sistema Único de Saúde durante a virose e num período pós-pandemia também, de modo a torná-lo pronto para quaisquer eventualidades futuras.
Por essas e por outras, os especialistas e aqueles que compreendem a importância do Censo consideram a discussão de verbas para a realização dessas pesquisas importante. Segundo eles, é a chave para o país e não passa de leviandade do atual governo não promover o Censo. Para alguns, como Sérgio Besserman, também ex-presidente do IBGE, entre 1999 e 2003, sem o Censo não há bom senso. "Só com a perda de eficácia das políticas públicas", diz, "representará muito mais dinheiro do que será economizado nesse corte dos recursos para o Censo."
Paulo Rabello de Castro, que também dirigiu o IBGE, o custo para a realização do Censo é muito barato, em relação aos seus resultados a longo prazo. "Imagina como é barata a realização do Censo no Brasil e quantas centenas de jovens brasileiros serão empregados. É uma estupidez não realizar o Censo, é uma marca da nossa estupidez nesse momento triste da nossa história".
- A frase que foi pronunciada
"Espero que todos vocês preencham o formulário do Censo quando ele chegar pelos Correios no próximo mês. Se você não devolver o documento, a área em que vive pode receber menos dinheiro do governo e você não gostaria que isso acontecesse, gostaria?
Andy Rooney, do programa 60 minutos da CBS
Verde que te quero
- Park Way, com grandes áreas de preservação ambiental, sempre despertou a cobiça de especuladores. Veja no blog do Ari Cunha matérias e documentos publicados sobre o assunto.
Convite
- Terezinha Celia Kineipp Oliveira assume a diretoria de aposentados da Anamatra 10. Veja mais sobre aposse dos novos membros da instituição no blog do Ari Cunha.
- História de Brasília
Veio depois, a esperança. Um governo honesto, correto e duto para todo mundo. Nas repartições, todos procuravam trabalhar, o que nem sempre acontecia. Os primeiros inquéritos foram violentos, e apareceram como uma bomba.
(Publicado em 02.02.1962)