Parece que só mudar a lei vai resolver o problema do Brasil. Não é só isso, diz Maia em webinar do JOTA Rodrigo Maia: Se você olhar a forma como fala o ministro da Economia, parece que todas as soluções do Brasil estão só no parlamento. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defende que ajustes pensando no longo prazo sejam adiados e pede mais engajamento da equipe econômica do governo. Falta um pouco de melhor organização por parte das áreas técnicas e a coragem em alguns temas, afirma. Não adianta a gente ficar querendo olhar o futuro se a gente ainda tem um presente difícil para ser enfrentado, diz. O que nós precisamos, é que o comando do governo, as decisões do governo, elas sejam mais incisivas.
O deputado critica a postura de Paulo Guedes com relação à divisão de responsabilidades. Se você olhar a forma como fala o ministro da Economia, parece que todas as soluções do Brasil estão só no Parlamento, avalia. Parece que a gestão do ministério, a melhoria da qualidade dos programas internos, parece que nada disso é relevante, destaca. Parece que só mudar a lei vai resolver o problema do Brasil. Não é só isso.
Maia foi o convidado especial nesta quinta-feira (11/6) na série de webinars que o JOTA realiza com autoridades dos três Poderes e especialistas para discutir os impactos da pandemia na política e na economia.
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Para o presidente da Câmara, as ações econômicas no momento precisam ser endereçadas àqueles que passam por maiores dificuldades por causa da crise. Acho que no curto prazo não tem que ter toda essa preocupação se vai ser 90% a relação dívida/PIB, não vai fazer muita diferença, diz. Tem liquidez no mundo, taxa de juros está baixa no mundo inteiro e a inflação não vai subir, explica. Então tem que concentrar e gastar, resolver o capital de giro das micro e pequenas empresas, a renda dos mais vulneráveis, para que sociedade possa sobreviver a esse período.
Ele é a favor da extensão do auxílio emergencial como foi proposto pelo governo. Nós temos que renovar o auxílio e no meu ponto de visto pelo mesmo valor [R$ 600] por dois meses pelo menos, defende. A intenção do governo é que as duas parcelas adicionais sejam no valor de R$ 300.
Relação com Bolsonaro
No dia 14 de maio, Rodrigo Maia se reuniu com Jair Bolsonaro e na saída o presidente disse voltamos a namorar, está tudo bem com Rodrigo Maia. De acordo com Maia, a relação continua boa e de lá pra cá eu acho que melhorou.
O presidente da Câmara destaca que não tem uma relação tão próxima com Bolsonaro, mas possui uma boa interlocução com muitos ministros.
Maia avalia que nas duas últimas semanas a situação da crise política melhorou e não vê um risco à democracia no país. A retórica é o que prevalece, não a prática. Nos próprios episódios finais em relação ao Supremo, todas as decisões o presidente, de forma retórica, atacou, mas na prática respeitou a decisão e recorreu de forma legal.
Ainda falando sobre Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Câmara elogia a fala do ministro Edson Fachin no julgamento sobre a validade do inquérito das fake news. O voto do ministro Fachin, sobre o inquérito das fake news, foi muito bom porque mostrou quais são os limites. Abuso precisa ter limites. No voto, Fachin disse: são inadmissíveis no Estado de direito democrático a defesa da ditadura, a defesa do fechamento do Congresso Nacional ou a defesa do fechamento do STF.
Maia pensa da mesma forma. Fake news não é liberdade de expressão. Fake news financiada por uma estrutura extremista que quer fechar o Congresso e o Supremo, isso não é liberdade de expressão, isso é crime e precisa ser tratado dessa forma.
Ainda de acordo com o presidente da Câmara, o ambiente atual pode unir a sociedade. Acho que o radicalismo que está colocado hoje vai ajudar a que a própria sociedade procure esse ambiente com maior diálogo, diz. Acho que o radicalismo vai ajudar na construção de um nome, porque senão acaba pulverizando demais, e a pulverização no meio fortalece os extremos.
Em relação a seu sucessor na presidência da Câmara, ele afirma que só vai começar a discutir o tema em novembro porque é muito cedo. Certamente vamos encontrar dentro desse universo de 512 deputados um nome que tenha compromissos com a modernização do Estado brasileiro conectado à responsabilidade fiscal, acho isso fundamental.
Webinars
A conversa com Rodrigo Maia faz parte da série de webinars diários que o JOTA está realizando para discutir os efeitos da pandemia na política, na economia e nas instituições. Todos os dias, tomadores de decisão e especialistas são convidados a refletir sobre algum aspecto da crise.
Entre os convidados, já participaram do webinar estão o apresentador e empresário Luciano Huck, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, o presidente do STF, Dias Toffoli, o ministro Gilmar Mendes, o ministro Luís Roberto Barroso, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), a presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP), o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa; além de representantes de instituições como a Frente Nacional de Prefeitos, a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.