Presidente do Supremo Tribunal Federal diz que conduta do chefe do Executivo %u201Cassusta a sociedade brasileira%u201D. Ele prega a %u201Cpaz institucional%u201D. AMB lança manifesto em defesa da Corte e da democracia
Renato Souza
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, criticou "atitudes dúbias" do presidente Jair Bolsonaro. De acordo com o ministro, esse tipo de conduta tem assustado a sociedade brasileira e a comunidade internacional, além de gerar impactos sobre a economia.
As declarações foram feitas em um evento promovido pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que lançou um manifesto em defesa do STF e da democracia. Toffoli lembrou que, no ano passado, Bolsonaro foi contra a abertura de comissão parlamentar de inquérito para investigar magistrados do Supremo, a chamada CPI da Lava Toga. No entanto, o chefe do Executivo teve uma atitude diferente em relação à conduta de seus apoiadores que atacam a Corte.
Toffoli destacou que o problema do momento, e o grande desafio, é a pandemia de coronavírus e a "crise econômica que se avizinha". Ele declarou que é momento de união institucional. "É necessária uma trégua entre os Poderes. E, aqui, dialogo diretamente com os presidentes de Poderes, em especial com o presidente Bolsonaro. Não são mais possíveis atitudes dúbias. Eu tenho certeza de que o presidente Jair Bolsonaro, em todo o relacionamento harmonioso que tenho com sua excelência, como tenho com seu governo e com o vice-presidente Hamilton Mourão... Eles juraram defender a Constituição e são democratas. Chegaram ao poder pela democracia e pelo voto popular, merecem o nosso respeito", afirmou. "Mas algumas atitudes têm trazido uma certa dubiedade, e essa dubiedade impressiona e assusta a sociedade brasileira. E, hoje, não mais só a sociedade brasileira. Também a comunidade internacional das nações, também a economia internacional."
Ele emendou: "Nós precisamos de paz institucional, precisamos ter prudência e união no combate à covid e a seus efeitos colaterais".
O ministro também reprovou atos de parlamentares contra o Judiciário. "Críticas podem ser feitas. Podem ter tramitação no Congresso propostas de mudanças na composição, da forma de composição do Poder Judiciário. Isso faz parte da democracia", frisou. "O que não tem cabimento são manifestações atentatórias ao Estado democrático de direito. Propostas no sentido de fechar o Supremo, de demitir os 11 ministros e colocar o que no lugar?", questionou.
Repúdio
No manifesto da AMB, entregue a Toffoli, entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação dos Juízes Federais (Ajufe), o Colégio de Presidentes dos Tribunais de Justiça do Brasil e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), "repudiam os ataques e as ameaças desferidas contra o Judiciário por grupos que pedem desde a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal até a imposição de uma ditadura".
O documento declara que o direito à liberdade de expressão não pode ser evocado para pedir o fechamento do Supremo ou ameaçar instituições democráticas. "Atacar o STF significa ameaçar todo o Judiciário e os valores democráticos do Brasil. Discordâncias, debates e críticas fazem parte e são bem-vindas no Estado de direito. A liberdade de manifestação e de expressão, no entanto, não abarca discursos de ódio e a apologia ao autoritarismo, à ditadura e a ideologias totalitárias que já foram derrotadas no passado", completa.
O ministro Alexandre de Moraes, também do STF, participou do evento. Ele evitou fazer comentários acerca do tema, se limitando a parabenizar os organizadores do manifesto. Moraes é o relator do inquérito aberto por Toffoli, no ano passado, que apura ataques e fake news contra a Corte e seus membros. As decisões dele -- que autorizou o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra apoiadores do governo -- foram alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro.