Não satisfeito com a "reforma" implementada em 2017, que acentuou a informalidade no mercado de trabalho, Executivo quer apresentar novas propostas, com sindicatos na mira. OAB e outras entidades pretendem se contrapor
São Paulo -Enquanto o governo quer ampliar a reforma trabalhista implementada em 2017, a título de aprimoramento, entidades do mundo jurídico se organizam para - na direção contrária à do Executivo - apresentar propostas com o objetivo de garantir maior proteção social. Entendemos que é hora de superação de pequenos atritos pontuais que possam existir na vida das instituições em torno de objetivos maiores. Precisamos produzir técnica e teoricamente saídas. Não basta apenas o discurso de resistência, afirmou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que lançou ontem (17) a Comissão de Altos Estudos do Direito do Trabalho. Nome parecido com o do governo, que criou o Grupo de Altos Estudos do Trabalho (Gaet).
O objetivo do Ministério da Economia é encaminhar até o final do ano um novo pacote trabalhista. Um dos principais itens deverá ser o fim do princípio da unicidade sindical. Pela Constituição, pode haver apenas um sindicato de cada categoria profissional por território (no mínimo, um município).
Em entrevista à Rádio USP, o professor Ruy Braga, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo, diz que com a medida o país caminhará da unicidade para o empreendedorismo sindical, com provável fragilização da representação dos trabalhadores. As iniciativas do governo, observa, vêm no sentido de uma desregulação radical do sindicalismo.
O Gaet inclui vários magistrados, alguns deles entusiastas da reforma, alinhados com a visão governista. Faz parte do grupo o ministro Ives Gandra Martins Filho, ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Já a Comissão criada pela OAB conta com representantes da Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas (Abrat), da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e da Associação dos Procuradores do Trabalho (ANPT), entre outras entidades. A ideia é apresentar propostas de projetos de lei ao Congresso. A presidenta da Anamatra, Noêmia Porto, defendeu a necessidade de buscar eixos comuns em um cenário em que enxergamos o mundo do trabalho absolutamente desestruturado, de tal maneira que causa prejuízo não apenas à cidadania, mas também aos empregadores.