Uma reunião só de mulheres já rende muita história para contar. Mas uma confraria de magistradas, com juízas e desembargadoras, além de render bons papos, também agrega muito aprendizado. Veteranas ou novatas, elas seguem levando ao árduo exercício da profissão toda a sensibilidade e versatilidade femininas, mesmo enfrentando o chamado machismo institucional. Em Minas Gerais, dos 892 juízes, 303 são mulheres. Na segunda instância, a representatividade feminina é ainda menor, sendo 22 desembargadoras ante 108 homens. "Temos que ser justos e não justiceiros. Lidamos com pessoas e impactamos diretamente em suas vidas e na de seus familiares", diz a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, da Vara Especializada em Crimes contra a Criança e o Adolescente.
Longe dos tribunais, onde ainda são minoria, as magistradas são apenas pessoas comuns, preocupadas com os cuidados com a saúde e a beleza. No último dia 08, terça-feira, cerca de 40 convidadas estiveram na casa da juíza Luziene Medeiros do Nascimento, da 6ª Vara Criminal. Atentas às dicas da dermatologista Rachel Guerra, foram orientadas em como assegurar a integridade da pele durante o processo de envelhecimento, preservando a harmonia facial, sem cair nas armadilhas da falsa juventude eterna. Entre uma conversa e outra, também se deslumbraram com as novas coleções de joias da designer capixaba Carla Buaiz. "Acredito que estes encontros sejam essenciais para nos aproximar e fortalecer enquanto profissionais que lidam com o poder e sofrem a pressão que ele exerce", diz Luziene. A década de 60 marcou o início do ingresso das mulheres na magistratura mineira, com a nomeação de Raphaela Alves Costa para o cargo de juíza de direito. Em 1988, Branca Margarida Pereira Rennó se tornou a primeira desembargadora do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Em fevereiro deste ano, o 10º Congresso Internacional da Anamatra, realizado em Bogotá (Colômbia), trouxe como tema a magistratura nos panoramas brasileiro e colombiano. Na ocasião, a juíza do Trabalho da 10ª Região Noemia Porto falou sobre o dilema da questão do gênero no campo do poder judiciário. "É inconcebível que, no sistema de Justiça, não haja uma discussão de amplo fôlego com relação à diversidade e a diferença", criticou.
Dados do Departamento de Pesquisas Judiciária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2018 comprovam uma participação menor das mulheres no Judiciário. Atualmente, os homens representam 84% dos ministros e elas 16%; no 2º grau eles ocupam 77% dos cargos contra 23%. Já no 1º grau, os homens representam 61% dos juízes titulares e as mulheres 39%. A Justiça do Trabalho concentra o maior número de mulheres magistradas (47%), seguida pela Justiça Estadual (34,5%), a Justiça Federal (26,2%), cabendo à Justiça Militar a menor representação (16,2%).