A série de reportagens Viúvas do Veneno, do jornal Diário do Nordeste, é um dos trabalhos agraciados com o Prêmio Anamatra de Direitos Humanos 2014. O anúncio dos vencedores foi feito na tarde de ontem pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), e a solenidade de premiação ocorre no próximo dia 27, no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro.
Com texto de Melquíades Júnior, fotografia de Waleska Santiago, edição de Maristela Crispim e design de Felipe Goes, a série, publicada em abril de 2013 no Caderno Regional, denuncia as condições de vida de trabalhadores rurais que adoeceram e morreram em decorrência de intoxicação por agrotóxicos. O trabalho jornalístico é um dos premiados na Categoria Imprensa e vencedor da Subcategoria Impresso.
Com o prêmio, a Anamatra tem o objetivo de valorizar e incentivar ações e atividades realizadas por pessoas físicas e jurídicas comprometidas com a promoção efetiva da defesa dos direitos humanos no mundo do trabalho. Além da premiação em dinheiro, cada jornalista vencedor receberá a estatueta inspirada no "Cilindro de Ciro", artefato de barro de 539 a.C, considerada a primeira declaração de direitos humanos da história.
Para construção da série, os jornalistas Melquíades Júnior e Waleska Santiago percorreram a região Nordeste, encontrando casos de contaminação, especialmente, na Chapada do Apodi, local onde há alta incidência de mortes por câncer.
"Foram sete anos de apuração minha até a publicação. Acho que cumprimos o nosso papel de jornalistas, que foi de denunciar um problema sério, tanto social como de saúde pública. Partimos com as publicações, os cientistas fizeram as comprovações e, depois, a Justiça tomou suas decisões, então acho que é a prova de que estamos no caminho certo", diz Melquíades.
Julgamento
Um dos casos de maior destaque denunciado pelo Viúvas do Veneno foi o da morte do trabalhador Vanderlei Matos. Sua esposa, Gerlene Silva, estava entre as viúvas retratadas. O trabalhador faleceu por insuficiência renal e hepática, ocasionado pelo contato direto que mantinha na preparação de agrotóxico para a multinacional Delmonte Fresh Produce, em Limoeiro do Norte. Uma ação trabalhista segue em andamento, com ganho de causa em primeira instância para a família de Vanderlei.
O recurso impetrado pela empresa será julgado às 13h de hoje, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em Fortaleza. "Entramos com a ação em favor da viúva argumentando o nexo de causalidade entre o trabalho e o dano, no caso a morte", explicou o advogado Cláudio Silva.
Segundo ele, a decisão em primeira instância foi inédita no Ceará em virtude da complexidade de se relacionar o agrotóxico com a doença. "Juntamos laudos do Ministério Público do Trabalho e de quatro médicos da Universidade Federal do Ceará atestando que a morte está relacionada ao ambiente de trabalho. Essa conexão que conseguimos mostrar é importante porque milhares de trabalhadores passam por essa situação", diz.
O advogado ressalta a importância da série Viúvas do Veneno no sentido de informar a sociedade casos de grande repercussão como esse. "Tenho acompanhado a repercussão e a gente fica muito feliz, porque é o reconhecimento do trabalho benfeito".