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Nem Marx nem Weber

Na nova economia, as idéias de Max Weber de "organizações" com uma estrutura relativamente estável com regras e procedimentos bem definidos começam a se desintegrar.
Carlos Alberto Fernandes é economista, professor da UFRPE, ex-secretário-adjunto do Tesouro Nacional.

Nem Marx nem Weber

Carlos Alberto Fernandes é economista, professor da UFRPE, ex-secretário-adjunto do Tesouro Nacional e diretor geral da Revista Continente Multicultural.

Pode parecer paradoxal, mas o maior fabricante de calçados esportivos do mundo – a Nike – não possui fábricas, nem equipamentos ou imóveis. A Nike produz idéias e vende conceitos. Ela contrata fabricantes anônimos para produzir as formas concretas de seus conceitos. Na verdade, a empresa é um estúdio de pesquisa e design com uma fórmula de marketing e um mecanismo de distribuição fantásticos. Ela é para todos os efeitos uma empresa virtual, a exemplo de muitas outras corporações que deixaram o ramo industrial para fazer parte da área da cultura, da fantasia e do entretenimento.

As vantagens comparativas que permitiram o seu sucesso foi a percepção antecipada de que o que está sendo comprado e vendido são idéias e imagens. E, na nova Economia – da informação e da tecnologia num mercado globalizado - a corporificação dessas idéias e imagens se torna cada vez mais secundário. A emoção vale mais do que qualquer razão. A sensação de um chiado (do bife na chapa) pode representar mais valor do que o próprio bife.

Na nova economia, as idéias de Max Weber de "organizações" com uma estrutura relativamente estável com regras e procedimentos bem definidos começam a se desintegrar. O mundo da tecnologia e do conhecimento requer organizações com estruturas flexíveis e formatos que podem mudar rápida e bruscamente. Nesse contexto, as organizações se tornam efêmeras e fugazes como as tecnologias utilizadas nos seus negócios. Nesse mundo, o processo é produto e a forma consubstancia o conteúdo.

De outra parte, as idéias de Karl Marx no combate sistemático ao capital ruíram com a queda do muro de Berlim. A inevitabilidade histórica de que a classe operária industrial seria coveiro do capitalismo e que seus grilhões se romperiam sozinhos não aconteceu, pelo menos no mundo desenvolvido. Registre-se como agravante que, ao contrário do capitalismo, o comunismo nunca aprendeu a produzir a riqueza que afirmava saber tão bem distribuir (nem tampouco o capitalismo sabe distribuir a riqueza que produz). Apelando para o contraditório, há autores que afirmam que o socialismo perdeu, mas o capitalismo não venceu.

Essas idéias pontuadas por Marx e Weber circunstanciam uma era industrial caracterizada por um mundo de chaminés e de força bruta. De operários e de construções... físicas. Em contrapartida, a era pós industrial e da nova economia é um mundo de formas platônicas. De idéias, imagens e arquétipos. De conceitos e ficções. É um mundo do espiritual e do compartilhamento emocional. É o novo espaço concreto da cultura.

Esta nova realidade tem mostrado que o capitalismo que interessa a humanidade não é o produtivo. É o criativo. Não é fora de propósito que o estudioso italiano Domenico De Masi esteja fazendo sucesso pelo mundo afora com seus livros e palestras sobre o ócio criativo. Para De Masi, na passagem do capitalismo industrial para o cultural, o ethos do trabalho está cedendo espaço para o ethos do lazer. Na década de 70, o nosso Gilberto Freyre já defendia essas mesmas idéias argumentando que, no futuro, as pessoas teriam mais tempo ocioso do que trabalho. E esse tempo ocioso seria preenchido com o lazer; sendo este, uma categoria fundamental do comportamento humano sem a qual a civilização não poderia existir.

Jeremy Rifkin pensa nessa mesma linha, quando afirma que neste século a produção cultural (incluindo o lazer) ascenderá ao primeiro nível da vida econômica. As informações e a tecnologia ao segundo, a fabricação ao terceiro e a agricultura ao quarto. Para Rifkin as mudanças do capitalismo industrial para o cultural, e a mudança de preocupação da propriedade para o seu uso, vão modificar ainda mais os contratos sociais e o comportamento das pessoas e das organizações.

Essas mudanças na forma e no conteúdo nos fazem crer que a cultura compartilhada não pode ser meio, deve ser fim. Os recursos culturais e os ritos sociais devem ser valorizados em si e por si mesmos. E, por mais que os produtos culturais possam ser vistos como commodities (mercadorias), não se pode ligar diretamente o símbolo do dinheiro a uma experiência cultural compartilhada, sem prejudicar os relacionamentos recíprocos que dão origem a ela. A cultura e seus ritos - essenciais à vida humana - independem de estereótipos econômicos para sobreviverem.

A economia cultural já é um mundo de símbolos onde "tudo que é sólido pode se desmanchar no ar"; como poderão estar a se desmanchar, para efeito desse novo tempo, grande parte das premissas que sustentaram as teorias de Marx e de Weber.

De qualquer sorte, utilizar-se de um novo determinismo histórico para confirmar a realidade estratégica do futuro é por demais oportuno para todos aqueles que estão vendo e vivendo esta nova economia da sociedade pós industrial. Nesse futuro, não há mais burocracias a serem preservadas nem correntes ou cadeias a serem destrancadas, a não ser as que estiverem nas mentes e cabeças de cada um de nós.

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