Webinário trata da contribuição intelectual da filósofa e antropóloga para a magistratura do Trabalho
Na terça-feira (29/11), a Associação Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) realizou, por meio da Comissão Anamatra Mulheres, webinário sobre os estudos das relações entre raça, classe e gênero no País, realizados pela filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez (1935-1994). Com duração de uma hora e meia, o webinário foi transmitido ao vivo, com o título ‘Por que a magistratura trabalhista deve conhecer a obra de Lélia Gonzalez?’
“A autora aborda diversos pontos para reflexões sobre a dificuldade de se tornar e ser negra ou negro no Brasil, um país que prega democracia racial ao mesmo tempo em que propaga o branqueamento da raça”, provocou a vice-presidente da Anamatra e presidente da Anamatra Mulheres, juíza Luciana Conforti, ao abrir o evento.
Uma das duas expositoras convidadas, a professora Flávia Rios, do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirmou que Lélia Gonzalez é uma intelectual brasileira que tem sido cada vez mais revisitada e estudada dentro fora do País.
“Ela é uma autora que tem uma produção intelectual muito marcante no campo interdisciplinar, ainda que seu pensamento esteja ancorado na filosofia, que é seu campo de formação”, resumiu Flávia, que também coordena o Núcleo de Pesquisa Guerreiro Ramos e é pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Flávia Rios fez uma breve exploração biográfica de Lélia Gonzalez, segundo ela, com a finalidade de introduzir aspectos sociais e contextuais da vida da autora, e depois explorou conceitos desses estudos, relacionados à cultura e democracia no Brasil, em especial o enfrentamento aos estereótipos culturais em torno das trabalhadoras negras.
A segunda exposição da noite foi realizada pela advogada Luana Angelo Leal, mestra em Teorias Jurídicas Contemporâneas pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGD/UFRJ) e integrante do Grupo de Pesquisa Configurações Institucionais e Relações de Trabalho (Cirt).
“A obra da Lélia Gonzalez é essencial para que possamos entender o que é Brasil, como se configura o racismo aqui em diversas formas. E pensando na magistratura do Trabalho, o que me chamou a atenção na obra dela é a questão da centralidade das relações do trabalho como um todo em seus estudos”, afirmou a pesquisadora.
Luana Leal pontuou a relevância das reflexões de Lélia Gonzalez sobre o desemprego e o genocídio da população negra, sobre a inserção da mulher negra na relação do trabalho e principalmente a figura da empregada doméstica e suas atualizações de estereótipos, da inserção dos trabalhadores negros enquanto franja marginal do mercado de trabalho, o mito da democracia racial, entre outros, que acabam resvalando ou não na Justiça do Trabalho.
O debate também contou com a participação das juízas do Trabalho Patrícia Maeda, juíza substituta do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) 15, de Campinas (SP) e região, e Viviane Martins, juíza substituta do TRT 5, da Bahia, ambas integrantes da Comissão de Direitos Humanos e da Comissão Anamatra Mulheres.
Assista à integra do webinar disponível no canal TV Anamatra no Youtube: