60 mil reais foram distribuídos para trabalhos nas categorias Cidadã, Imprensa e Programa Trabalho, Justiça e Cidadania (TJC)
A Anamatra entregou, na noite desta terça (18/9), o Prêmio Anamatra de Direitos Humanos 2018. A cerimônia aconteceu no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, e contou com a participação de presidentes das Amatras, magistrados de diversas Regiões, entre outras autoridades. Nesta 8ª edição, o Prêmio contou com o apoio da Amatra 1 (RJ).
O objetivo da premiação é valorizar ações realizadas por pessoas físicas e jurídicas no Brasil que estejam comprometidas com a defesa dos direitos humanos no mundo do trabalho. O Prêmio Anamatra de Direitos Humanos 2018 distribuiu um total de 60 mil reais. Além da premiação em dinheiro, o vencedor em cada categoria/subcategoria recebeu um troféu.
Ao abrir a solenidade, o presidente da Anamatra, Guilherme Feliciano, lembrou que a defesa da valorização do trabalho humano e do respeito à cidadania é uma previsão estatutária da entidade. “Ter um prêmio de direitos humanos é ter também a consciência de que, infelizmente, estamos longe de um mundo digno de trabalho, como bem preconiza a nossa Constituição. O Brasil alimenta-se do trabalho escravo, ainda explora a suas crianças, adoece e mata seus empregados, discrimina as suas minorias... E essa luta é de todos nós juízes e juízas do trabalho, entidades, jornalistas, estudantes aqui presentes. São as boas práticas, como as que conheceremos um pouco mais nesta noite, que nos dão fôlego e esperança para seguirmos em frente”, disse.
Na mesma linha, a diretora da Cidadania e Direitos Humanos, Luciana Conforti, ressaltou que a iniciativa é um espaço de visibilidade e de denúncia em face das inúmeras agressões aos direitos humanos praticadas, não só no mundo do trabalho, mas em todos segmentos da nossa sociedade. “Em breve, a Constituição de 1988 completará 30 anos de promulgação e apesar de o diploma ter se notabilizado pela proteção dos direitos sociais e humanos e de ter destacado a dignidade humana como centro irradiador de interpretação do ordenamento jurídico, vivemos momento de retrocessos sem precedentes no âmbito da proteção desses direitos”, destacou.
Premiados – Na categoria Cidadã, venceu a organização não governamental Associação Cultural Namastê, que atende pessoas de diferentes idades e deficiências no Distrito Federal. A iniciativa surgiu a partir da experiência profissional de Dança Cigana Artística da professora Luciana Vitor. A ONG busca descobrir potencialidades humanas, promover o respeito à dignidade da pessoa, a aceitação da deficiência como parte da diversidade e da condição humana e promover ações que possibilitem a paz, a cidadania, os direitos humanos e a ética. "Este prêmio representa o reconhecimento de um trabalho desenvolvido com muita dedicação, estudo e respeito as singularidades de cada um, mostrando os impactos produzidos a partir da convivência em grupo por meio da arte em uma relação da efetivação da inclusão social, com gestos acolhedores, amorosos e afetuosos,” afirma a presidente da ONG, Luciana Vitor Dias.
O rap “Quebrando as correntes”, do aluno Maxwell Santos, da Escola Estadual de Ensino Médio Japão, em Porto Alegre, venceu na categoria Programa Trabalho Justiça e Cidadania (TJC). A ideia surgiu quando o estudante teve contato com o Programa da Anamatra, realizado na 4ª Região pela Amatra 4 (RS). "Para um escritor, poeta, músico, quando seu trabalho e seus pensamentos são entendidos e apoiados pelo público, isso cria um certo valor emocional sobre a nossa arte. Ter tido esta oportunidad de me expressar e participar de um concurso tão importante como este é algo que vou levar como experiência para toda a minha vida", declara o estudante.
Na categoria Imprensa, subcategoria Impresso, venceu a jornalista Camila Correia Alves, o Diário de Pernambuco, com a reportagem “Impedidas: machismo e violência no futebol”. A reportagem retrata as barreiras do preconceito em um dos redutos mais machistas da sociedade brasileira: os gramados. O trabalho retrata problemas como assédio sexual, preconceito de familiares, amigos, questionamentos sobre sexualidade e a necessidade de conciliar a vida de atleta com outro trabalho. “A reportagem foi meu sonho de finalmente ter mulheres falando sobre mulheres no esporte. Foi uma história construída em conjunto, que precisou de seis meses de apuração, escrita e edição em uma tentativa de não deixar brechas para qualquer questionamento sobre a existência desse problema. Além de, principalmente, dar a visibilidade necessária para que ele possa ser resolvido”, afirma.
A categoria Imprensa, subcategoria Televisão premiou a equipe da TV Pajuçara (Record) com a série “Casas de Farinha: o fim da tradição. O começo da escravidão, assinada pelo repórter Thiago Correia. O jornalista mostrou como os trabalhadores produzem, em situação precária e em condições análogas à escravidão, a farinha de mandioca do estado de Alagoas. A reportagem também flagrou outras irregularidades, como o trabalho insalubre, o trabalho infantil e a ausência de equipamentos de proteção. A série revela ainda estudos inéditos sobre a emissão do ácido cianídrico contido na mandioca, substância muitas vezes letal para os trabalhadores. Para o repórter, no atual contexto nacional, onde se vive em um cenário de perdas de direitos e risco a democracia com a banalização do conceito de direitos humanos no país, vencer o prêmio mais importante do segmento nos dá a certeza de que o jornalismo está no caminho certo, defendendo a cidadania e a dignidade humana e sendo porta-voz de milhões de pessoas que sofrem diariamente de forma silenciosa. “É uma honra e um orgulho fazer parte de um seleto grupo de profissionais que venceram essa importantíssima premiação de fundamental relevância social!”, disse.
O difícil caminho para a educação e o mercado de trabalho das transexuais foi o tema da reportagem do jornalista Marcelo Henrique Andrade, CBN Paraíba, que venceu na categoria Imprensa, subcategoria Rádio. A série mostrou o cenário de preconceito vivido por essas pessoas, bem como histórias de força e superação e de exemplos de como o preconceito e a intolerância podem ser combatidos. Andrade acredita que a premiação é um reconhecimento aos trabalhos preocupados na cobertura dos direitos humanos. “Mais do que nunca o jornalismo precisa estar vigilante aos desafios da sociedade no combate a temas como discriminação, todo tipo de preconceito e qualquer violação dos direitos, seja ele qual for. Apenas em uma sociedade com imprensa vigilante e atuante, a transformação social ideal fica mais perto de acontecer”, relata.
Já a categoria Imprensa, subcategoria Fotografia premiou imagem de Marcelo Prest, do jornal A Gazeta (ES), que retrata dos catadores de materiais recicláveis no Espírito Santo. "Ser vencedor no prêmio com meu trabalho é trazer visibilidade para problemas sociais que parecem estar muito distantes de nossas realidades, onde ciclos de miséria se perpetuam diante do olhar acostumado do cotidiano com a possibilidade de que essa imagem possa ajudar a mudar as relações de trabalhos degradantes”, pontua o jornalista.