Dizem que quem sai do aeroporto José Martí em direção ao centro de Havana, em determinado ponto do trajeto, depara-se com uma mensagem. "Esta noite quinhentas mil crianças dormirão na rua. Nenhuma delas é cubana". A revolução cubana comemora cinqüenta anos. Sonhos, amores e esperanças foram depositados nas mãos de Fidel Castro e sua idéia de implantação do socialismo em uma pequena ilha caribenha, menor do que a maioria dos estados brasileiros.
Antes de Fidel, cuba era governada por Baptista, carrasco e partidário da expropriação do humano por um punhado de dinheiro. Deposto, fugiu da ilha, covarde, como um bando de estrangeiros que faziam de Cuba colônia de férias de tiranos e ditadores capitalistas vindos do norte.
Os cubanos deram a alma em nome da igualdade material. Aproximaram-se muito dela. Educação, saúde e moradia todos têm. Não há quem passe fome. Não há, também, o que desperdiçar.
A essência do socialismo está em dar a cada um o que é seu. Dar a cada um apenas o que é seu. A revolução cubana começou por onde a revolução burguesa parou. Se estes não trouxeram a prometida igualdade e venderam o engodo da igualdade formal, Fidel prometeu e cumpriu a igualdade material.
Nesta madrugada de 03 de janeiro de 2009, chuvosa em Porto Alegre, milhares de crianças dormirão na rua. Todas elas são humanas. Neste país que gera mais de um trilhão de dólares americanos de riqueza por ano e que cresceu mais de 5% em 2008, ainda há quem não tenha como dormir nos dias de tempestade.
Falta muito na ilha. Falta a liberdade. A liberdade se conquista aos poucos. Não é fulminando a imprensa, artistas ou intelectuais que se atinge a liberdade. Liberdade se faz com a alma independente, com a essência imaterial amparada das conquistas materiais. Não se pode considerar livre quem não tem o que comer ou quem não tem onde morar, mesmo que possa ler qualquer jornal ou revista. Fidel sabe disso. Não se pode desenvolver um país pequeno com embargo econômico. Imaginem um embargo econômico à China. Cresceria ela 10% ao ano?
Quanto aos dissidentes, emigrantes ou fugitivos, Cuba os exporta. Mas será que o México não o faz? Que seria dos Estados Unidos sem os mexicanos? Um dia sem os mexicanos. Das multinacionais estadunidenses sem a exploração do trabalho e a corrupção dos costumes em municípios mexicanos como o de Juarez? E da Espanha? País onde 10% da riqueza é produzida por "imigrantes" ou seriam dissidentes?
Há muito que fazer na ilha. Mas há muito que comemorar. A experiência da revolução e a necessidade de que a cada dia a idéia da revolução permanente deva realizar-se não pode ser apagada da mente dos cubanos. O socialismo é a essência do humano. Aristóteles já dizia que o homem é um ser social. Que Cuba reascenda a chama da revolução e recomece, agora pela idéia de liberdade, uma "nova revolução permanente", que andará de mãos dadas com a igualdade, permitindo que cada um, livremente, decida seu destino, sem se preocupar se terá, amanhã, o que comer, onde morar ou para quem trabalhar. Parabéns a Cuba. E que ela se mantenha na contramão da história ocidental. Sempre!
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(*) Juiz do Trabalho Substituto - TRT 4ª Região