Todos os dias somos surpreendidos por alguma manchete ou alguma ação contra o Judiciário – o mais produtivo de todos os tempos. Dias de luta, dias de glória, já dizia a música. Esperamos que o futuro também traga dias de justo reconhecimento para quem está na linha de frente de um país aflito".
Por Carolina Hostyn Gralha, Presidente da AMATRA IV
Eu vi um belo gráfico expondo o recorde de produtividade dos juízes do nosso país em 2017: foram 7,1 sentenças por dia útil – sem deduzir o período de férias.
Há mais de uma década faço parte deste contingente de mulheres e homens que se dedicam à jurisdição e que, frequentemente, para cumprirem com maestria as suas funções, abrem mão de suas questões pessoais e familiares.
Assumir a Presidência de uma Associação de Juízes do Trabalho nos permite um outro olhar da problemática.
Metas e números fazem parte da nossa rotina de cobrança e, mesmo dando o retorno exemplar, a espada segue em nossas cabeças. Nunca se trabalhou tanto, mas, também, nunca se foi tão exposto. Algo como se a magistratura fosse inimiga e não a solucionadora de conflitos em um país absolutamente conflitante.
Saliento o orgulho de perceber como nos superamos a cada ano e que estamos prestando um serviço de excelência. Mas, do lado de cá, vejo muitas vezes desânimo e desprestígio, cansaço.
Poucos conseguem acompanhar a que custo o Judiciário aumenta a sua produção. Estamos adoecendo. A exigência é pesada e contínua, a redução dos quadros é uma realidade, enquanto isso, muitos preferem se manter apenas na “arquibancada” para vaiar ou culpar os jogadores.
Os juízes passaram a ser os grandes responsáveis pelas mazelas do Brasil. Desde a questão remuneratória até as garantias constitucionais (diga-se, que revertem em favor da própria sociedade) são subterfúgios para não se enfrentar os verdadeiros problemas ou as suas causas. Até o trágico incêndio do Museu Nacional gerou postagem deste tipo.
É inaceitável sermos medidos apenas por uma fita métrica (nunca deveríamos ter sido assim medidos), que robotiza números, gera conclusões artificiais e desconsidera o adoecimento da magistratura. Somos mais do que a nossa produção. A atuação dos juízes vai muito além das sentenças: pacifica conflitos e lida com um turbilhão de demandas que não entram em conta alguma.
Todos os dias somos surpreendidos com alguma manchete ou alguma ação contra o Judiciário – o mais produtivo de todos os tempos. Dias de luta, dias de glória, já dizia a música. Esperamos que o futuro também traga dias de justo reconhecimento para quem está na linha de frente de um país aflito.