Os principais alvos de Bolsonaro são o ministro Alexandre de Moraes, que o incluiu no inquérito das fake news, e Luís Roberto Barroso, presidente do TSE
A série de ataques do presidente Jair Bolsonaro ao Judiciário e ao sistema eleitoral tem provocado reações da sociedade civil. Ontem, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgou nota de repúdio "à escalada de desrespeito aos integrantes do Supremo Tribunal Federal protagonizada pelo chefe do Poder Executivo". A ofensiva do mandatário se acentuou após a inclusão dele no inquérito das fake news, em andamento no STF.
"São inaceitáveis as repetidas mensagens distorcidas sobre decisões judiciais e sobre a higidez do processo eleitoral brasileiro", destacou a Ajufe, reprovando as "ameaças diretas de ruptura com a ordem legalmente constituída".
Os principais alvos de Bolsonaro são o ministro Alexandre de Moraes, que o incluiu no inquérito das fake news, e Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contrário ao voto impresso que o chefe do Planalto insiste em implantar.
A Ajufe manifestou apoio à conduta adotada pelo presidente do STF, Luiz Fux, reconhecendo a liderança do magistrado "para atuar na defesa da ordem jurídica e do Poder Judiciário, bem como na preservação da harmonia e independência dos Poderes da República". A entidade pediu, ainda, que as "demais autoridades atuem para a retomada de um ambiente tranquilo e pacífico, no qual os limites impostos pela Constituição sejam respeitados".
Por sua vez, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) também publicou nota diante das "graves ameaças e agressões proferidas, que caracterizam preocupante crise institucional e desrespeito à Constituição e à independência dos Poderes da República". "É necessário posicionar-se com absoluta firmeza e veemente repulsa diante de toda e qualquer declaração ou conduta, que venha, por via direta ou oblíqua, lesar o princípio harmônico republicano, a autonomia e a independência do Poder Judiciário, bem como que objetive desvirtuar ou mesmo aniquilar a democracia, tão penosamente construída, mantida e aprimorada pelo sistema constitucional vigente", enfatizou.
A Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) - organização sem fins lucrativos que se autodefine como apartidária e de atuação suprapartidária - divulgou manifesto, assinado por 96 líderes do movimento, incluindo senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores. O texto ressaltou não haver "democracia sem democratas" e repudiou "toda e qualquer declaração, intenção ou tentativa de não aceitação dos resultados eleitorais ou de impedimento à realização das eleições, sobretudo quando advindas daqueles que deveriam ser guardiões de nossas instituições".
Já o manifesto assinado por empresários, economistas e acadêmicos - divulgado na quinta-feira - ganhou mais amplitude ontem, sobretudo após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciar que levará à votação, no plenário, a proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, derrotada na comissão especial da Casa na quinta-feira.
Com o título "o Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados", o documento ganhou milhares de novas assinaturas pelo site Eleição se Respeita, canal aberto para inclusões. A defesa é pela estabilidade democrática. "A Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo. Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico. A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias", diz o texto.