Por outro lado, na visão dele, agentes econômicos relevantes ainda depositam confiança excessiva em Paulo Guedes Cientista Político Fernando Limongi - Foto: Youtube
Mesmo com a piora na avaliação de governo e a queda de popularidade, não há base de articulação para um impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A análise é do cientista político Fernando Limongi, que participou do webinar do JOTA, nesta segunda-feira (25/5), sobre a crise política no Brasil.
A oposição saiu muito enfraquecida da eleição de 2018. Foi um verdadeiro terremoto, disse Limongi. Para o analista, há outros fatores que ajudam o presidente da República, mesmo com a atual crise no país.
O presidente se isola cada vez mais, perdendo apoio da população e beirando 20% de ótimo nas avaliações. É uma queda nunca vista antes. Entretanto, o mercado e os agentes econômicos relevantes ainda depositam confiança excessiva no Paulo Guedes, explicou o cientista político.
Ainda na área econômica, Limongi afirmou que é um erro a visão de que a única ação que o governo deve fazer é manter as contas públicas em ordem durante a crise sanitária vivida. Isso não será suficiente para que o Brasil saia da crise. Precisamos ter um grau de inovação nas políticas econômicas, disse.
Ademais, o cientista político alertou que a instabilidade política e econômica afastam investimentos do país. Com instabilidade política, não vejo investidores externos querendo colocar dinheiro no país.
Ele também destacou a falta de posicionamento do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), sobre a instabilidade política no país e um possível impeachment.
O silêncio dos presidentes da Câmara e do Senado podem ser sinais de preocupação ou apenas um comportamento estratégico, afirmou.
O cientista político acrescentou ser improvável um golpe militar no país. Na minha avaliação, não temos um governo militar, mas um governo formado por militares, diz. Ao assumir o Ministério da Saúde, o resultado para o Exército pode ser severo porque as consequências recairão todas sobre essa instituição, afirmou Limongi.
STF
Sobre as ações do Supremo Tribunal Federal (STF) durante a crise política, Limongi afirmou que o presidente da Corte, Dias Toffoli, já tentou negociar com Jair Bolsonaro para que exista uma estabilidade entre os dois poderes.
Dias Toffoli acenou a bandeira branca para o governo inúmeras vezes, fez de tudo para apaziguar as relações. Entretanto, Bolsonaro não conseguiu seguir esse acordo, disse.
Para Limongi, o STF está mais célere em suas ações durante a crise e tem atuado como um agente político. O STF, desde o mensalão, assumiu um papel político do qual não consegue mais se afastar e exerceu isso de forma muito forte no impeachment da Dilma Rousseff, afirmou.
Na atual crise, Limongi afirmou que parte do ativismo do STF é resultado das ações do ministro Celso de Mello, que se aposentará ainda no mandato de Bolsonaro, e coloca um ritmo que não é comum ao tribunal.
O cientista político também acredita que o ministro Alexandre de Moraes tem a relatoria de processos importantes nas Corte, com o potencial de desestabilizar o atual governo.
Webinars
A conversa com Fernando Limongi faz parte da série de webinars diários que o JOTA está realizando para discutir os efeitos da pandemia na política, na economia e nas instituições. Todos os dias, tomadores de decisão e especialistas são convidados a refletir sobre algum aspecto da crise.
Entre os convidados, já participaram do webinar estão o apresentador e empresário Luciano Huck, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, o presidente do STF, Dias Toffoli, o ministro Gilmar Mendes, o ministro Luís Roberto Barroso, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), a presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP), o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa; além de representantes de instituições como a Frente Nacional de Prefeitos, a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.