Rossieli Soares revela que volta pode ser em julho, mas não há uma definição Rossieli Soares: A recuperação do tempo perdido não termina neste ano. Todas as metas e planejamentos terão que ser revistos. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil
As escolas não têm data para o retorno das aulas, mas há um consenso quanto à volta: será preciso realizar avaliações precisas sobre o estágio de cada aluno. Será mais forte para alguns e menos para outros, mas a recuperação que vamos ter que fazer da aprendizagem é de 100% dos alunos, afirma o secretário de Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares. Estamos criando materiais para atender diferentes graus de proficiência em uma mesma sala, revelou durante webinar do JOTA nesta terça-feira (19/5).
A presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, também participou do debate e concordou com a avaliação de Soares. Na volta, a avaliação pedagógica para saber em que ponto cada aluno está na aprendizagem será o ponto de partida, disse. É importante olhar para as experiências internacionais, há países dois ou três meses à nossa frente e temos como aprender, complementou.
Em São Paulo, temos uma possibilidade de volta às aulas em julho, mas não podemos cravar. O que sabemos é que será preciso fazer um rodízio, adiantou o secretário de educação do estado. Segundo ele, os protocolos para a volta estão sendo estudados e serão fechados com a vigilância sanitária.
Para Priscila Cruz, o retorno exigirá ações intersetoriais e a educação vai ter que trabalhar de forma conjunta com assistência social, com a saúde, com cultura e com a Fazenda, já que a crise reduziu a arrecadação do Estado. Por sinal, a presidente do Todos Pela Educação considera que agora se tornou mais essencial ainda a aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Precisa ser aprovado ainda no primeiro semestre para que entremos em 2021 com um pouco mais de certeza de quais recursos vão chegar a estados e municípios, defende. A versão atual do Fundeb vence neste ano. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pretender votar o novo Fundeb ainda em maio.
Independentemente da verba que estará disponível para a educação, todo o planejamento terá que ser remodelado. A recuperação do tempo perdido não termina neste ano. Todas as metas e planejamentos terão que ser revistos, explicou Rossieli Soares.
E qual o tamanho do prejuízo do tempo perdido? Suspeito que a gente deve retroceder entre 5 e 10 anos em relação aos resultados de educação nos próximos anos, avalia Priscila Cruz. Os prejuízos na educação não serão restritos a este ano. Se um aluno, por exemplo, não assimilar o conceito de equação de 1º grau, não vai aprender a equação de 2º grau e vira uma bola de neve no aprendizado, complementa.
Essas lacunas de ensino preocupam principalmente os alunos do terceiro ano do ensino médio, que estão sem aulas e precisam se preparar para o Enem. Muitos jovens do 3º ano e me perguntam se vão perder o ano. Tenho dito a eles se inscrevam no Enem. Sou a favor do adiamento, mas sempre reforço para que se inscrevam, aconselha o secretário de Educação de São Paulo. Há também jovens perguntando se podem repetir o 3º ano do ensino médio para ter melhores condições de fazer o Enem no ano que vem, revelou o ex-ministro da Educação, que nunca tinha se deparado com tal questionamento.
Manter a data do Enem é uma atitude de negacionismo. Nessa disputa política, quem perde são os estudantes, avalia a presidente do Todos Pela Educação.
Segundo ela, o lado positivo da quarentena é que houve uma aproximação da escola com os pais. Percebemos uma valorização dos professores pelos pais, que pela primeira vez acompanham de perto a dinâmica dos filhos em sala de aula.
Webinars
A conversa com Rossieli Soares e Priscila Cruz faz parte da série de webinars diários que o JOTA está realizando para discutir os efeitos da pandemia na política, na economia e nas instituições. Todos os dias, tomadores de decisão e especialistas são convidados a refletir sobre algum aspecto da crise.
Entre os convidados, já participaram do webinar estão o apresentador e empresário Luciano Huck, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, o presidente do STF, Dias Toffoli, o ministro Gilmar Mendes, o ministro Luís Roberto Barroso, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), a presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP), o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa; além de representantes de instituições como a Frente Nacional de Prefeitos, a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.