Um levantamento feito no Twitter ao longo desta sexta-feira (24/4) pelo Departamento de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP) mostra que, pela primeira vez, houve uma cisão na rede que apoia o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Foram mapeados 1,8 milhão de Tweets com interações políticas e 70% deles foram da base partidária de oposição ao governo. Outros 13% das interações políticas foram da base partidária de direita - dentro dessa parcela, 26% das postagens criticavam Bolsonaro e 74% reprovavam a postura de Sergio Moro.
"A saída de Moro motivou, pela primeira vez, uma cisão na base de apoio ao presidente", afirma Amaro Grassi, coordenador da FGV-DAPP. "O custo da saída do Moro foi subestimado pelo presidente e quem o rodeia", completa.
Segundo o estrategista digital Iago Bolívar, o principal a se observar agora é o tamanho da migração da base lavajatista para fora do bolsonarismo, e o "quanto isso vai afetar outras ilhas desse arquipélago". Ele explica que a rede bolsonarista é fragmentada, com correntes como os evangélicos, os lavajatistas e aqueles que combatem a esquerda.
Amaro Grassi e Iago Bolívar participaram de webinar promovido pelo JOTA para discutir a reação das redes sociais à saída de Sergio Moro do governo.
Durante o dia, diz Iago, a rede mais próxima da Lava Jato apoiou Moro, criticou o presidente e ensaiou um rompimento com Bolsonaro. "A rede do presidente reagiu horas depois da saída de Moro, e nesse momento temos uma rede rachada".
O pronunciamento de Bolsonaro foi no fim da tarde e, para Grassi, teve impacto na base do presidente do Twitter. "Trouxe coerência de discurso em resposta à saída de Sergio Moro", avalia. "Cada trecho do pronunciamento do presidente teve um endereço claro, como ao apontar que Moro é contra o armamentismo". Bolívar concorda: "durante o discurso, o presidente fez acenos a várias redes de apoio, como ao falar que a Szabó é a favor do aborto e que o Moro é contra o armamentismo". Para ele, agora "é preciso ver o quanto ele vai conseguir ativar dessas redes".
Quanto ao futuro de Moro, Bolívar entende que a manutenção da atuação do agora ex-ministro da Justiça depende de algo além do discurso. "Ficar somente no discurso não adianta, o Ciro Gomes é prova disso", lembra. "Mesmo com uma rede ampla de apoiadores, é difícil conseguir se sustentar somente no discurso", diz. O estrategista digital destaca, no entanto, que Moro é a maior ameaça que Bolsonaro já enfrentou desde que foi eleito.
Grassi vai na mesma linha: "Moro tem mais condições do que qualquer outra personalidade política recente para construir uma base ampla".
A conversa fez parte da série de webinars diários que o JOTA está realizando, durante a pandemia da Covid-19, para discutir os efeitos na política, na economia e nas instituições. Todos os dias, tomadores de decisão e especialistas são convidados a refletir sobre algum aspecto da crise.
Entre os convidados, já participaram o presidente do STF, ministro Dias Toffoli; o também ministro do STF Gilmar Mendes; a presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS); o secretário especial de Trabalho e Previdência do Ministério da Economia, Bruno Bianco; o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa; Claudio Lottenberg, presidente do conselho do Hospital Israelita Albert Einstein; além de representantes de instituições como a Frente Nacional de Prefeitos, a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.
Érico Oyama - Repórter