O webinar do JOTA com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), foi realizado na tarde desta quinta-feira (23/4), em meio às indefinições sobre a permanência de Sergio Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública. "A população não espera de nós mais crise, mas sim resultados positivos", disse ao ser questionado sobre a possível saída de Moro. "Vou trabalhar para que ele não se afaste da função de ministro", garantiu. "Precisamos cada vez mais fazer com que as pessoas acreditem na boa política e em quem tem uma vida pregressa que o credencie para as funções que ali exerce".
Ronaldo Caiado é uma das lideranças do DEM, partido que tem atualmente dois ministros: Onyx Lorenzoni no Ministério da Cidadania e Tereza Cristina no Ministério da Agricultura. Até a semana passada, também fazia parte do quadro Luiz Henrique Mandetta, que comandava o Ministério da Saúde, a principal pasta no combate ao coronavírus. "Converso com o Mandetta todos os dias, ele é uma pessoa que, pelo conhecimento que tem, não poderia voltar para casa", diz Caiado. "O partido (DEM) preferiu que o Mandetta desse uma assessoria nacional, para poder atender a todos nós, governadores, prefeitos e deputados".
Um dos principais motivos para a demissão de Mandetta foi a defesa da necessidade de isolamento social para conter o avanço do coronavírus. Ao mesmo que tempo em que o então ministro dizia "fique em casa", o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) saía para constantes passeios nas ruas de Brasília.
Também há dissonância no discurso de Bolsonaro em relação aos governadores. No dia 15 de março, houve atos em diversas capitais do país contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). À época, o Brasil tinha 191 casos confirmados de Covid-19 e havia a recomendação para evitar aglomeração. Mesmo assim, Bolsonaro compareceu ao ato em Brasília. Ronaldo Caiado foi ao protesto realizado em Goiânia e recebeu vaias depois de dizer que aglomerações deveriam ser evitadas.
Para Caiado, essa duplicidade cria um quadro conflituoso na cabeça do cidadão. "O presidente tem uma conduta e eu tenho a minha", diz. "Já que não temos um ponto de convergência, sigo protocolos embasados para preservar as experiências que outros países me ensinam para que erros eu não cometa".
O estado de Goiás decretou quarentena em 13 de março, quando não tinha o registro de nenhum caso confirmado de Covid-19. No começo desta semana foi publicado um decreto liberando o funcionamento de algumas atividades, como construção civil, salões de beleza, lavanderias e oficinas. "Estamos nos beneficiando dos 37 dias que fizemos a quarentena", afirma o governador. "O sentimento é que é um processo que no final de três meses nós estaremos com isso totalmente superado".
Caiado destacou que a decisão de liberar para funcionamento alguns estabelecimentos foi feita depois "de um trabalho científico, e não por um achismo". Foram elaborados 15 protocolos, com regras específicas para cada área na volta ao funcionamento. "O prefeito que ampliar as atividades, precisa fazer um mapa epidemiológico, um plano de contingência e prestar informações ao Ministério Público e ao Poder Judiciário para saber se teria leitos suficientes em caso de crescimento no número de contaminados".
Goiás tem hoje 20% dos leitos ocupados no estado, o que caracteriza "um número bem suportável" na avaliação de Caiado. Caiado disse que a última compra de respiradores no estado foi a um custo unitário de R$ 36 mil, mas na última consulta realizada o valor estava em US$ 35 mil - o equivalente a.R$ 193 mil na cotação atual.
"Além da dificuldade instrumental, há ausência de força de trabalho, incluindo médicos, enfermeiros, técnicos de tomografia".
Com relação ao isolamento social, o estado chegou a ter uma taxa de 66,4%, a maior do país. Mas o governador disse durante o webinar do JOTA que hoje a taxa é de 50% e está em queda.
Sobre o pós-crise, Caiado espera ser a oportunidade para mostrar ao mundo "que temos uma grande peça no tabuleiro, que se chama agropecuária". Nas palavras dele, o setor "vai produzir um superávit enorme porque a segurança alimentar é imprescindível em qualquer lugar". O governador quer se reunir com integrantes do Executivo federal para discutir a retomada da economia. "Solicitei uma audiência com o ministro da Casa Civil para tratarmos o passo seguinte, como traremos a volta dos investimentos, as oportunidades de empregos".
A conversa com Ronaldo Caiado fez parte da série de webinars diários que o JOTA está realizando, durante a pandemia da Covid-19, para discutir os efeitos na política, na economia e nas instituições. Todos os dias, tomadores de decisão e especialistas são convidados a refletir sobre algum aspecto da crise.
Entre os convidados, já participaram do webinar estão o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, o presidente do STF, Dias Toffoli, o ministro Gilmar Mendes, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), a presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP), o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa; além de representantes de instituições como a Frente Nacional de Prefeitos, a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.
Érico Oyama - Repórter