O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB-SP), afirma que os números hoje apontam a necessidade de continuação da quarentena e que a área da saúde vai determinar em que prazo a reabertura será implementada na cidade. Segundo ele, "não adianta criar falsas esperanças". Mais cedo, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), anunciou reabertura gradual das atividades econômicas no estado a partir de 11 de maio. Nada está definido com relação à capital paulista e a decisão será tomada em conjunto com o governo do estado, disse Covas durante webinar que o
JOTA promove diariamente para discutir com autoridades e especialistas os impactos da crise do coronavírus na política, na economia e nas instituições.
"Estamos aguardando os estudos do estado para saber como eles se aplicam ao município de São Paulo", disse o prefeito. "Temos tomado as decisões de acordo com o comportamento dos números e com o apontamento da vigilância sanitária". Covas afirma não ter medo de perder popularidade devido às decisões tomadas durante a crise: "ganhando ou perdendo popularidade, vou continuar seguindo a recomendação da área sanitária, com a saúde sendo prioridade".
De acordo com o tucano, os números do governo do estado apontam que a quantidade de mortos na cidade de São Paulo seria 10 vezes maior sem a quarentena. Atualmente, revelou, a taxa de isolamento no município tem variado entre 55% e 60%.
Já a taxa de ocupação de leitos de UTI da rede pública da cidade é de 65%. Não está descartada a possibilidade de uso de leitos de outros municípios e também da rede privada. "A ideia é fazer um chamamento, para que a gente possa remunerar os hospitais", explicou. "Se for o caso, se chegarmos em uma situação ainda mais difícil, é possível, com a decretação de calamidade pública, fazer a requisição dos leitos".
Por enquanto, disse Covas, a Secretaria Municipal de Saúde avalia que está conseguindo segurar o pico de infecção de Covid-19, mantendo a curva sem explosão de contágio.
Em relação a testes, a disponibilidade no momento é somente para as pessoas indicadas pelos profissionais da área da saúde. "Testes em massa dependem de uma ação do governo federal", afirmou.
Bruno Covas considera, como medida extrema, a aplicação de multas para quem não usar máscaras: "o uso de máscaras é uma recomendação da OMS, estamos confiantes de que as pessoas estão cada vez mais conscientes. Acho muito difícil chegarmos à necessidade de ter que multar, mas isso não está descartado".
Na área econômica, o município de São Paulo tem recursos para lidar com a crise até o fim de junho, mesmo com a previsão de perda de R$ 8 bilhões na arrecadação neste ano. "Tínhamos um superávit do ano passado de R$ 2,5 bilhões, que vamos ter que usar com esses novos gastos que não estavam previstos", diz. "Também tivemos autorização da Câmara Municipal para usar fundos municipais que eram de outras áreas e que agora podem ser usados no combate ao coronavírus. Só aí são mais R$ 1,9 bilhão", destacou. "Se a crise passar de junho, novas medidas precisarão ser tomadas".
Bruno Covas espera que o Congresso aprove a compensação de ISS e ICMS para municípios e estados. "Tenho muita expectativa, até porque o governo federal tem outras formas de se financiar, diferente de municípios de estados", lembra. "Esperamos alguma compensação do governo federal, já que ele tem um tratamento diferenciado na legislação". O projeto de lei
149/2019, que trata das compensações, foi aprovado na Câmara e aguarda apreciação no Senado.
Ao ser questionado sobre possível mudança nas datas das eleições municipais, preferiu não se posicionar porque seria diretamente afetado por uma decisão. "Sou suspeito para falar, não tenho a imparcialidade necessária que se requer para poder analisar, já que sou interessado", ponderou. "Esse é um tema para o Congresso definir".
Nas considerações finais, reafirmou que vai continuar seguindo a recomendação da área sanitária e que a saúde é a prioridade. "A diferença de ser ou não populista é fazer o que é certo, e não o que as pessoas querem", disse.
A conversa Bruno Covas fez parte da série de webinars diários que o JOTA está realizando, durante a pandemia da Covid-19, para discutir os efeitos da crise na política, na economia e nas instituições. Todos os dias, tomadores de decisão e especialistas são convidados a refletir sobre algum aspecto da crise.
Nesta quinta-feira (23/4), o convidado será o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM-GO). A mediação será feita pelo analista-chefe do JOTA em São Paulo, Fábio Zambeli. O webinar começa às 16h.
Entre os convidados que já participaram do webinar estão o presidente do STF, Dias Toffoli, o ministro Gilmar Mendes, o ministro de Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, a presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS); o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP); o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa; além de representantes de instituições como a Frente Nacional de Prefeitos, a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.
Érico Oyama - Repórter