Emanoel, de 16 anos, é morador de Manaus e nasceu sem o braço esquerdo; gremista roxo, o sonho do menino era conhecer o seu maior ídolo e assistir ao vivo a uma partida do seu time
A Colônia Antônio Aleixo é um bairro de Manaus, capital do Amazonas, e foi criado para ser uma comunidade de pessoas com hanseníase. Hoje, o local conta com uma população de quase 20 mil pessoas e quase cinco mil domicílios (segundo o Censo 2000). Em um dos campos da comunidade, um menino começou a chamar a atenção dos vizinhos: o goleiro Emanoel, de 16 anos, ganhou fama ao defender um pênalti na semifinal do torneio local.
A fama ficou ainda maior quando souberam que esse goleiro tinha uma deficiência e não tinha o braço esquerdo. Ali, Emanuel virou personagem de reportagens, ficou conhecido por pessoas que nunca havia o visto e ainda conseguiu calar a boca de muita gente que o desmerecia.
- Estávamos ali fazendo as atividades físicas com o time e ele estava assistindo ao treino. Eu olhei pra ele e disse "E aí, garoto? Sabe jogar bola?" e ele me respondeu que era goleiro. Eu respondi "Como assim, goleiro? Os instrumentos do goleiro são os braços". Ele me pediu uma chance e olha aí o resultado hoje - disse Rui Bonifácio, o primeiro treinador da vida de Emanoel.
- Apesar do sofrimento que nós passamos, em um certo dia, estávamos sentados na sarjeta e ele olhou pra mim e disse "Mano, nós vamos sair dessa vida". Isso eu nunca me esqueço e hoje eu vejo isso se cumprir - lembrou o irmão de Emanuel, Bruno.
Além do sucesso no campo de terra batida, Emanoel chamou a atenção de outras pessoas por um outro motivo. Depois de voltar da escola, o menino rodava as ruas do bairro vendendo trufas de chocolate. Foi durante uma venda dessas, que ele foi abordado por um funcionário da Associação O Pequeno Nazareno. Foi convidado a abandonar o trabalho infantil e apostar em uma chance no futuro: com aulas de reforços, oficinais de informática e ensinamentos de como se portar em um ambiente de trabalho. O trabalho é feito em conjunto com a ANAMATRA - Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho - e, a partir desse ano, receberá o apoio do Criança Esperança.
- O nosso projeto vem ao longo dos anos resgatando adolescentes que estão nas ruas em situação de trabalho infantil - comentou Simone Sodré, uma das coordenadoras do projeto.
- Porque só através de três pilares é possível dar dignidade a essas crianças: trabalho, justiça e cidadania. Nós somos servidores - explicou Mauro Braga, juiz do Trabalho em Manaus.
Voltando aos campos, Emanoel foi conquistado pelo Grêmio. Desde o título da Libertadores 2017, o coração desse amazonense bate em três cores: azul, preto e branco. Depois do título do Campeonato Gaúcho deste ano, o goleiro manauara elegeu seu maior ídolo em Porto Alegre: Paulo Victor.
- Na final, contra o Internacional, o Paulo Victor pegou três pênaltis. E foi isso que fez eu me apaixonar - explicou Emanoel.
Por ser de uma família humilde, Emanoel nunca teve a chance de ir a um estádio de futebol ou ter a camisa oficial do time de coração. O Esporte Espetacular preparou uma surpresa para o menino, o levando a Porto Alegre (na primeira viagem de avião) para assistir ao empate entre Grêmio e Chapecoense em 3 a 3. Além disso, ele ainda encontrou pessoalmente o seu maior ídolo.
- Deixa eu te dar um abraço apertado aqui. Estou muito feliz de poder realizar esse seu sonho. Essas coisas que me motivam cada vez mais a estar agarrando. Estou muito feliz de coração. É um sonho ter esse reconhecimento - comemorou Paulo Victor.
Mas Paulo Victor não se conteve apenas em realizar o encontro com o menino. Além dos abraços e lágrimas, o goleiro do Grêmio fez questão de vestir Emanoel de Paulo Victor: com direito a camisa com nome, duas luvas (uma com a inscrição PV e outra escrita Emanoel), bola de futebol autografada e um casaco usado pelo próprio jogador gremista. Além de todas os presentes, o menino de Manaus ganhou mais coisas que ele nunca mais vai esquecer.
- Pra sempre eu vou lembrar desses momentos marcantes. Sempre. Isso vai ficar na minha memória para sempre. As pessoas que me crucificavam, hoje aplaudem de pé - completou Emanoel.