Na última quinta-feira, o presidente do STF determinou a abertura de inquérito para apuração de uma série de ataques e da difusão de notícias falsas atentatórias à honorabilidade do tribunal. O inquérito mira dois alvos principais: procuradores da força-tarefa da Lava Jato e os responsáveis por grupos de Whatsapp bolsonaristas reativados para auxiliar na difusão de informações favoráveis à reforma da previdência.
Os procuradores da Lava Jato, em especial Deltan Dallagnol e Diogo Castor, entraram na mira do Supremo após publicarem no Twitter declarações hostis ao Judiciário. Dallagnol criticou o entendimento do Supremo sobre a competência para julgar os crimes de caixa 2 eleitoral relacionados com práticas de corrupção. Era de interesse do MP que o processamento de tais crimes permanecesse sob a competência da justiça federal comum e não sob a alçada dos juízes eleitorais. O STF decidiu em contrário. Dallagnol foi contundente ao comentar: "começou a se fechar a janela de combate à corrupção". As críticas insistentes do procurador estariam insuflando a opinião pública contra a autoridade judicial.
A preocupação do Supremo também se voltou à avalanche de fake news que passaram a ser compartilhadas por grupos de Whatsapp pró-governo, reativados para viabilizar a reforma de previdência. O alvo escolhido pelos grupos é o STF. Como noticiaram a Folha de S. Paulo e o Estadão, as mensagens associam o tribunal ao narcotráfico e à "máfia comunista", conclamando a população a uma ação efetiva para derrubada dos ministros. A difusão de informações falsas motivou Dias Toffoli a determinar a apuração das responsabilidades através da medida enérgica e incomum do inquérito.
A decisão do presidente do STF dividiu não só os ministros da Corte. O presidente da Associação Nacional de Procuradores falou em ilegalidade. Contrariamente, OAB, Ajufe, AMB e Anamatra apoiaram a medida. Ainda é cedo para avaliar as consequências das apurações. O presidente parece ter deixado clara a mensagem de que o tribunal está a postos para fazer valer sua autoridade. A necessidade de reafirmar força revela, contudo, um Supremo acuado e expõe a degradação de um cenário político em que a ordem jurídica passou a valer muito pouco e onde fins pouco republicanos justificam a exploração de todos os meios.