Magistrados fazem ato em São Paulo e em pelo menos outro nove Estados contra o risco de extinção desse braço do Judiciário
"Jair Bolsonaro, o brasileiro quer Justiça do Trabalho".
Reunidos em frente ao Fórum Ruy Barbosa, na zona oeste de São Paulo, juízes, advogados e trabalhadores da Justiça do Trabalho realizaram um ato em defesa deste ramo do Judiciário nesta segunda-feira, 21. Outros protestos, em pelo menos outros nove estados, estavam marcados para hoje.
As manifestações são respostas às declarações recentes do presidente da República, Jair Bolsonaro, que em entrevista concedida no início de janeiro para o SBT, admitiu a possibilidade de extinção da Justiça do Trabalho.
"Jair Bolsonaro, o brasileiro quer Justiça do Trabalho", foram as palavras de ordem cantadas pelo presidente da Amatra-2, o juiz Farley Rodrigues Ferreira, no carro de som do evento, acompanhada em coro pelos participantes.
O presidente da Amatra-2, juiz Farley Rodrigues Ferreira. Foto: Christian Braga/ Amatra-2
O trecho no sentido Centro da Avenida Marquês de São Vicente, onde está localizado o Fórum Ruy Barbosa, foi interditado para realização do ato. A estimativa dos organizadores é que 3 mil pessoas participaram da manifestação.
A atividade é articulada por meio de parceria entre Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 2ª Região (Amatra-2), Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Estado de São Paulo (Sintrajud), Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo (AATSP), Federação Nacional dos Advogados (Fenadv) e Movimento dos Advogados Trabalhistas Independentes (Mati).
Também participa do evento Guilherme Guimarães Feliciano, presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra).
Guilherme Feliciano, presidente da Anamatra, em discurso durante o ato. Foto: Christian Braga/ Amatra-2
"Me perguntaram 'por que este ato agora?’. Porque, ao que eu me lembre, nunca se havia ouvido de um presidente da República uma palavra que pudesse significar uma ameaça à Justiça do Trabalho", afirmou Guilherme Guimarães Feliciano, presidente da Anamatra.
O ato é parte do recém-criado Movimento Em Defesa da Justiça do Trabalho (MDJT) e, segundo os organizadores, foi articulado para rebater insinuações de Bolsonaro de que o Brasil é um dos únicos países do mundo com uma justiça especializada na resolução de conflitos trabalhistas.
Manifestante segura cartaz que simula carteira do trabalho. Foto: Christian Braga/ Amatra-2
Os protestos não receberam apoio da presidência do Tribunal Superior do Trabalho, que encaminhou ofício a todas as Cortes Regionais na sexta, 18, desaconselhando o 'apoio institucional’ ao movimento.
Para os magistrados que participam do movimento, no entanto, as declarações de Bolsonaro ao SBT soaram como uma ameaça. "Isso daí, a gente poderia até fazer, isso está sendo estudado. E, havendo o clima, nós podemos discutir essa proposta e mandar pra frente. Nós queremos", afirmou o presidente da República, no dia 3 de janeiro.
A advogada Saraha Hakim afirmou. "A pretensa interferência do Presidente do TST em uma manifestação constitucional e democrática, a pedido do chefe do Executivo federal, é muito grave e visa cercear a livre manifestação de forças legítimas da sociedade. A Justiça do Trabalho não foi criada para gerar lucro, mas para gerar justiça."
Igor Moraes e Fausto Macedo