A DIVERSIDADE E A HARMONIA NECESSÁRIAS
LELEI TEIXEIRA
Jornalista
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O que nos move neste tempo é contraditório e complexo. Há conformação e aceitação, puras e simples. Ou conduzidas. Ou por necessidade. Há muitas dúvidas. Há medo e angústia. Há sentimentos genuínos de quem não se submete à palavra autoritária, sem diálogo e sem diversidade. Mas o momento é de aliviar as tensões de um período difícil e tenso, sem alimentar ódios, ufanismos e mágoas. É necessário olhar para o outro desarmado - entre risos, abraços, críticas, lágrimas ou brincadeiras, com a expectativa de que ainda pode ser possível a harmonia na diferença.
Vamos nos inspirar nos poetas e seus embates com a palavra, como bem definiu a professora Marlene Teixeira, uma estudiosa da linguagem e do poder da palavra. "Os poetas sempre souberam da rebeldia da palavra, de sua ?resistência? em colocar-se sob o domínio daquele que a utiliza: ela diz mais ou diz menos, diz outra coisa; ela não cessa de produzir sentidos através do tempo, sentidos esses nunca acabados, jamais detidos. Se, de um lado, não se pode realizar uma fala ?satisfatória?, de outro lado, a palavra ?justa? insiste em se dizer e é para encontrá-la que seguimos falando".
Precisamos, então, da palavra que nos tire da intolerância violenta para combater a discriminação já autorizada. Precisamos buscar o outro e encontrar a possibilidade do diálogo que nos coloque novamente em sintonia, mesmo na divergência, para discordar, é claro, mas como seres civilizados que somos, ou deveríamos ser.
A riqueza da vida está no cotidiano compartilhado e na multiplicidade de ideias, ações, escolhas e comportamentos que dividimos. Não há espaço para vítimas ou heróis neste cenário confuso. Não há espaço para estereótipos. Se as dificuldades e as sombras estão no ar, mais do que nunca é necessário cultivar aptidões, sonhos e lutar sem medo pela liberdade. A partir do que já está dado, ainda será possível a empatia. E tudo pode recomeçar a cada amanhecer, com o foco na humanidade, na vida coletiva e solidária. Já está dito que não somos ninguém sem o outro. E aprender é um processo contínuo.
ALGUÉM ERROU
CLÁUDIO BRITO
Jornalista
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Quase pensei que alguém tivesse mentido. Afinal, duas pessoas tão entrosadas, com funções que se completam e atuando em regime de absoluta confiança recíproca, como poderiam fazer afirmações tão contraditórias? Falo do anúncio feito por Jair Bolsonaro a respeito da extinção da Justiça do Trabalho, o que estaria sendo avaliado por alguns de seus assessores.
Dias antes, em 21 de dezembro, em Porto Alegre, Onyx Lorenzoni, talvez o mais próximo e fiel escudeiro do presidente, dissera exatamente o contrário.
Segundo o que garantiu em encontro com dirigentes da Anamatra - Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho -, não haveria qualquer projeto dedicado à ideia de acabar com a Justiça Trabalhista, "seja na proposta de governo, seja nos debates da transição e tampouco o tema compõe o elenco de preocupações do presidente eleito", afirmou. O então deputado federal pelo Rio Grande falou com muita clareza que estava à disposição da entidade de classe da magistratura trabalhista para manter aberto o diálogo em defesa da Justiça do Trabalho, para desautorizar a boataria. E agora? Terá sido um boato de Bolsonaro o que afirmou há três dias? Luiz Colussi, diretor da entidade nacional, e Carolina Hostyn Gralha, presidente da Amatra 4, associação regional gaúcha dos magistrados trabalhistas, esperam a confirmação de novos agendamentos com Lorenzoni, que prometera um encontro para os primeiros dias de janeiro, dando sequência ao que ficou ajustado "como um longo caminho a percorrer, baseados sempre no diálogo", como está publicado no espaço de notícias das páginas da Anamatra na internet.
É certo que alguém lembrará a Bolsonaro o que diz a Constituição Federal sobre independência e harmonia entre os poderes. Está dito na revista Âmbito Jurídico, que busco para respaldar o que penso: "Não há relação de subordinação ou hierarquia entre Legislativo, Executivo e Judiciário, devendo cada qual exercer sua atividade de forma horizontal, de modo que o Estado funcione na mais perfeita harmonia e atinja sua finalidade, ou seja, o bem comum".