Adepto a políticas liberais, Jair Messias Bolsonaro assume a Presidência da República em 1º de janeiro com a promessa de fazer a economia do Brasil crescer e avançar as reformas econômicas, como a mudanças nas regras da Previdência Social. Mas, embora espere-se uma guinada da política para a direita, o presidente eleito subirá a rampa do Planalto com uma popularidade de 75%. Porém, com enorme desafios pela frente. Nesta sexta-feira, durante o encontro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no Rio, ele mesmo admitiu um governo difícil em 2019, mas afirmou que o Brasil tem potencial e massa humana para vencer estes desafios.
Estatais em xeque, 12,4 milhões de desempregados, alta carga tributária, mais de R$ 139 bilhões de déficit e dólar beirando os R$ 3,90: este é o Brasil que o presidente Jair Bolsonaro terá comandar a partir do primeiro dia do novo ano. Desde a campanha presidencial, ele externou sua intenção de "privatizar o que for possível", reformar a Previdência, simplificar impostos e adotar políticas mais liberais. A expectativa é de que a economia, sob a alçada de Paulo Guedes, seja o objeto de maior atenção do novo governo, do noticiário e da população.
Com a reforma trabalhista em vigor, o ano de 2018 foi marcado pela frustração quanto à geração de empregos no país. No trimestre terminado em outubro, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) divulgada pelo IBGE, a taxa de desemprego no Brasil era de 11,7% (12,4 milhões), apenas 0,1 ponto percentual menor do que a registrada no final de 2017 (11,8%).
A questão se complica quando somada à dissolução do Ministério do Trabalho, que perderá seu status depois de 88 anos de existência. Suas funções, como elaborar políticas e diretrizes para a gera-ção de emprego e renda, modernizar as relações trabalhistas e fiscalizar postos de trabalho, por exemplo, serão distribuídas a três outros ministérios: o da Justiça, de Sérgio Moro; o da Cidadania, de Osmar Terra; e o da Economia, de Paulo Guedes.
Para Guilherme Feliciano, presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), a extinção do Ministério do Trabalho é um "atentado contra o equilíbrio de forças que a Constituição quis construir", já que outros pilares da legislação brasileira ainda têm o respaldo de alguma pasta específica. "Existem políticas públicas com cuidados de ministério para questões de desenvolvimento econômico e de livre iniciativa. Se não há um para o trabalho, ele se torna algo secundário e deixa de ser importante", avalia.
Na economia, o Brasil é uma potência exportadora de matérias-primas, mas ainda está saindo de uma recessão recorde, que reverteu muitas das conquistas do período de bonança de apenas uma década atrás. Paulo Guedes, o superministro da Economia escolhido por Bolsonaro, pretende impulsionar reformas que diminuam a crescente dívida brasileira, principalmente através de privatizações, mudanças fiscais e incentivo ao investimento estrangeiro.
Nesta área, um dos principais desafios será reformar o sistema previdenciário. Mas o Partido Social Liberal (PSL) de Bolsonaro não conta com maioria no Congresso. Aprovar esta reforma exigirá alianças com membros de vários partidos, que compõem a chamada bancada 'BBB' (boi, bala e bíblia).
Na política externa, a nova orientação será rapidamente explicada ao mundo através da diplomacia, cuja diretriz estará bastante inspirada no presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de quem Bolsonaro é admirador.
O presidente eleito disse que vai retirar o país do Pacto Global de Migração da Organização das Nações Unidas (ONU) e está decidindo se fará o mesmo com o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, em consonância com Trump. Na mesma linha, acenou com a possibilidade de mudar a embaixada de Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
Adicionalmente, tem sido hostil com os investimentos chineses no Brasil e dito que fará tudo o que estiver em seu poder, "dentro da democracia", para desafiar os governos de Cuba e Venezuela.
Na política interna, as duas principais promessas de Bolsonaro são reduzir os índices de criminalidade no país e acabar com a corrupção. O capitão do Exército na reserva quer flexibilizar as leis para que os 'cidadãos de bem' possam ter acesso mais facilitado a armas de fogo. Seus críticos temem que isto possa agravar a situação em um país que registra 64 mil homicídios por ano.
O combate à corrupção é representada desde 2014 pela operação Lava Jato, que pôs no banco dos réus e atrás das grades dezenas de políticos e empresários, algo incomum no Brasil. Capitalizando a boa imagem da operação, Bolsonaro escolheu o juiz símbolo da Lava Jato, Sérgio Moro, para ser seu ministro da Justiça e Segurança Pública.