A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de liberar a terceirização irrestrita põe fim ao impasse jurídico em torno de 3.931 processos em tramitação sobre o tema no país. "As ações em andamento serão atingidas. O julgamento teve repercussão geral, o assunto não será mais objeto de discussão. Está superado", diz Antonio Carlos Frugis, sócio do Demarest Advogados.
De acordo com ele, a súmula do TST (Tribunal Superior do Trabalho) que autorizava a terceirização apenas para atividade-meio cerceava as formas de contratação.
"Havia engessa mento das empresas quanto ao modo como fariam a gestão de seu negócio. Impedia a autonomia e havia intervenção do Estado na iniciativa privada", afirma Frugis.
Domingos Fortunato, sócio do escritório Mattos Filho, destaca que a decisão encerra a instabilidade para as empresas.
"Os votos apontam para uma pá de cal e pacificação da controvérsia. Haverá maior segurança jurídica" diz ele.
Para os especialistas em direito do trabalho, a decisão legitima a constitucionalidade da lei da terceirização, do ano passado, e também ratifica pontos da reforma trabalhista.
Os casos julgados no STF se referiam a casos anteriores às novas legislações.
Segundo o presidente da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), Guilherme Feliciano, porém, a Justiça do Trabalho terá a função de avaliar as condições concretas da terceirização, caso a caso.
Caberá à Justiça trabalhista analisar se houve precarização, diz ele.
"Agora perde qualquer utilidade essa definição [de atividade-meio ou atividade-fim]. O que será discutido é se aquela terceirização concretamente levou à precarização, se configura fraude, e se viola a isonomia salarial", afirma.
O superintendente jurídico da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Cassio Borges, rebateu a crítica de que a modalidade pode precarizar o trabalho.
"A decisão do Supremo não só reconhece que a terceirização não precariza como também deixou assegurado de forma expressa uma responsabilidade subsidiária da empresa que toma o serviço. É uma dupla garantia", disse.
Para Borges, a decisão "elimina um dos principais focos de insegurança para o setor produtivo brasileiro existentes antes da lei da terceirização".
Para a CUT (Central Única dos Trabalhadores), no entanto, o Supremo "desrespeitou a Constituição".
A secretária de relações de trabalho da CUT, Graça Costa, disse que a decisão vai reduzir direitos.
"Os ministros do STF não têm dimensão da gravidade do resultado dessa decisão. Vai levar o Brasil a ter situação de precarização enorme, que tem efeito na saúde e segurança dos trabalhadores", disse.
Vander Morales, presidente da Fenaserhtt, federação que reúne empresas de terceirização de serviços, afirmou acreditar que a ampliação da terceirização deve incentivar o uso desse tipo de contrato em setores de tecnologia e áreas administrativas.
Entre 11 milhões e 13 milhões de trabalhadores estão empregados em companhias de prestação de serviços terceirizados, estima a entidade.
Atualmente, entre as atividades que mais demandam serviços nessa modalidade estão segurança, limpeza e alimentação coletiva, segundo Morales.
Para ele, a decisão do STF consolida a terceirização como uma prática legal.
Por dar mais segurança jurídica para empresários e investidores, ajudará na redução do desemprego quando a recuperação da economia acelerar.