Isabella Souto
Em protesto à pichação feita na sexta-feira por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no prédio onde a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, tem apartamento, um grupo de representantes do Movimento Brasil Livre (MBL) e do Partido Novo esteve, ontem com baldes, sabão e vassouras para limpar as manchas de tinta vermelha na calçada do edifício no Bairro Santo Agostinho, área nobre na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Pessoas que passavam pelo local deixaram flores e algumas tiraram fotos.
O vandalismo foi praticado por integrantes do MST, contrários à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em decorrência da condenação a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá (SP). A defesa do petista ajuizou habeas corpus no STF na tentativa de que ele pudesse recorrer ao processo em liberdade, mas, na quarta-feira, os ministros negaram o benefício e coube à ministra Cármen Lúcia o voto de Minerva, quando o julgamento estava em cinco a cinco.
O coordenador do MBL em Minas Gerais, Leonardo Vitor, foi um dos que fizeram questão de passar pelo edifício. Segundo ele, a iniciativa é simbólica e representa o repúdio a atos de intolerância e vandalismo. O empresário Rodrigo Paiva, filiado ao Novo, disse que o ato representa uma forma de tentar "limpar a sujeira" feita pelo PT no país. "Enquanto os vermelhos mancham o país, os verdes e amarelos limpam", afirmou.
Morador do prédio há pouco mais de um ano, o aposentado Luís de Alcântara lamentou o ataque. "É um ato que reflete não só em uma pessoa importante do país, mas em outros oito moradores do prédio", disse. A Polícia Federal esteve no prédio na noite de sexta-feira para perícia. Está em estudo a possibilidade de reforçar a segurança no edifício. O trabalho de limpeza deverá durar pelo menos três dias.
A Polícia Militar deteve dois suspeitos de pichar o prédio de Cármen Lúcia e do edifício do Ministério Público de Minas Gerais. A identificação foi feita por imagens de câmeras da região e pelas placas dos ônibus usados no ato e que foram encontrados na Praça da Estação, onde houve manifestação a favor de Lula na sexta-feira. Alef Teixeira, de 21 anos, e Maxuel Martins Silva, de 24, foram detidos em estação do metrô, na noite de sexta, assinaram termo pela infração de pichação e foram liberados, com o compromisso de comparecer em audiência na Justiça.
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Sérgio Etchegoyen, telefonou para Cármen Lúcia para prestar solidariedade e oferecer auxílio do governo federal até para investigação do caso. O governo considerou o ataque "lamentável". Na sexta-feira, a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) divulgou nota condenando o ataque e afirmando que "não é razoável" que um magistrado "desde a primeira instância do Judiciário até a Suprema Corte brasileira, seja constrangido, punido por suas decisões".