A capacitação e a educação de produtores rurais foi uma das soluções apontadas nesta quinta-feira (27), na Câmara dos Deputados, para que o Brasil utilize agrotóxicos de forma adequada, reduzindo os riscos de intoxicação de pessoas e de contaminação do meio ambiente. O assunto foi discutido em audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, a pedido dos deputados Zé Silva (SD-MG) e Dr. Jorge Silva (Pros-ES).Segundo os participantes do debate, a capacitação se torna cada vez mais necessária diante do crescimento do mercado de agrotóxicos e da dificuldade de fiscalização do uso desses produtos. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, reproduzidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2006 foram comercializadas 480 mil toneladas de agrotóxicos no Brasil. Em 2012, esse número saltou para 827 mil toneladas- um aumento de 72% em seis anos. Também em 2012, o mercado nacional totalizou 9,71 bilhões de dólares.
"O Brasil tem quase cinco milhões de propriedades rurais. É realmente complexo entrar nessas propriedades e verificar o uso. Nossa estratégia agora é mapear os riscos regionais com a colaboração de dados regionais sobre intoxicação levantados pelo Ministério da Saúde para destinar fiscais estaduais e reduzir os impactos eventuais do mau uso", explicou o diretor do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Luís Eduardo Rangel.
Intoxicação
Os participantes da audiência chamaram atenção ainda para os possíveis danos à saúde decorrentes do uso de agrotóxicos. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 220 mil pessoas morrem por ano no mundoem decorrência de intoxicação aguda por esses produtos. No Brasil, em 2013, foram registrados em média 6,5 casos por 100 mil habitantes, conforme dados apresentados pelo coordenador-geral de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Jorge Huet Machado.
Audiência teve opiniões divergentes
O assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) José Eduardo Costa saiu em defesa dos produtores rurais. "O Brasil tem proporções continentais e clima tropical que favorece a proliferação de pragas", disse.
Ele reclamou, por outro lado, da lentidão dos órgãos governamentais em liberar o registro de novos agrotóxicos e cobrou uma reformulação no sistema.
O representante do Ministério da Agricultura Luís Eduardo Rangel reconheceu que a demanda por registro no Brasil é muito maior do que a capacidade do governo em atendê-la.
Diário fez série premiada sobre o assunto
O perigoso uso de agrotóxicos e as vítimas em decorrência do seu manuseio, foram tema de uma série de rpeortagens publicadas no caderno regional em abril de 2013 pelo Diário do Nordeste. Com texto de Melquíades Júnior, fotografia de Waleska Santiago, edição de Maristela Crispim e design de Felipe Goes, "Viúvas do Veneno" mostrou o drama de viúvas que perderam o marido por complicações ocasionadas em decorrência do uso indiscriminado do produto na manutenção das lavouras.
A série gerou repercusão no Estado e foi vencedora do prêmio Anamatra de Direitos Humanos 2014.